sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O NASCIMENTO DE SOFIA

Ah... Sofia!!! Menina linda e muito esperada!
Lucélia, mãe de Sofia, me permitiu acompanhar sua gestação logo do princípio.

A gravidez decorreu tranquila, sem grandes problemas. Lucélia sempre muito tranquila demonstrava sua alegria em guardar e aguardar a pequenina.


Nas três últimas semanas de gestação me mantive mais próxima delas, já que o papai estava trabalhando em outra cidade e não pôde acompanhar fisicamente toda a gestação.

Visitei Lucélia em 11 de outubro, fui tão bem recebida! Conheci o quartinho e todos os mimos que esperavam por Sofia. Tivemos um fim de tarde e parte da noite muito agradáveis, Lucélia e eu conversamos sobre suas expectativas em relação à chegada da princesinha e suas preferências em relação ao parto e cuidados primários na Casa de Parto. Ela me contou que queria um parto tranquilo, que sua filha nascesse da maneira mais amena possível, não tinha expectativas em relação à posição para parir, só queria se sentir livre para deixar a natureza agir.

Fiquei tão feliz em visitá-las, minhas energias sempre se renovam na presença de mulheres que gestam, e se tratando da Lucélia, havia algo maior que nos unia, uma espécie de cumplicidade, já que a conheço há dois anos e acompanhei parte de suas expectativas em relação à maternidade.


Durante a semana que se seguiu, me comuniquei com a Lucélia por telefone, acalmando-a, esclarecendo suas dúvidas e claro "babando" naquele barrigão. Sentia que a cada dia que se passava, Lucélia ficava mais ansiosa para a chegada de Sofia. Quando os pródromos se intensificaram e a dilatação começou, Lucélia imaginou que Sofia já estava chegando imediatamente. Acredito que parte dessa angústia para a recepção da pequena, vinha da necessidade que Lucélia sentia de ter Cleber, seu companheiro por perto. Por várias vezes ela me contava do desejo que Sofia viesse logo, para que o pai pudesse acompanhar tudo de perto. Mas como bem sabemos a natureza tem seu curso, o que me cabia era escutá-la, tranquilizar sobre o processo que seu corpo estava passando, me disponibilizar.

Por algumas vezes, nas semanas que se seguiram, Lucélia buscou Míriam (EO) e o Hospital Sofia Feldman, com a esperança de acelerar todo o processo. Me senti angustiada em alguns momentos, por saber da pressa de Lucélia para que Sofia chegasse. Para a minha alegria, Lucélia estava muito bem amparada. Tanto no Sofia quanto com Míriam, a sugestão era a mesma, que Lucélia tivesse calma, esperasse um pouco mais para tomar alguma atitude que viesse a acelerar o tempo de Sofia.

No dia 22 de outubro por volta das 14 horas recebi um telefonema de Lucélia me avisando que havia ido fazer um escalda-pés na maternidade e que como estava com quase 4 cm de dilatação, o médico a sugeriu que já ficasse internada. Como Lucélia estava tranquila, não estava se sentindo incomodada com nada e também não estava com contrações, combinei com ela que voltaria a ligar as 19 horas para saber como ela estava e se necessário iria a seu encontro. Agi assim instintivamente, acreditava que aquele ainda não seria o momento que Sofia nos agraciaria com sua presença. Mais tarde como o combinado liguei para Lucélia, Cleber seu esposo me disse que haviam feito o BCF e estavam a espera do médico para que avaliasse e se tudo estivesse normal fossem liberados para voltar para casa. E assim tudo ocorreu...

No sábado de manhã, Lucélia me ligou avisando que iria novamente ao hospital para ver se estava tudo bem com Sofia e induzir o parto. Bia, a enfermeira de plantão na casa de parto da maternidade, tranquilizou Lucélia e a orientou a dar um pouco mais de tempo para Sofia. Lucélia e Cleber foram para Nova Lima descansar um pouco e se desconectarem da pressão para que o parto começasse.


As 16 horas voltei a ligar para Lucélia, ela me disse que estava se sentindo muito bem, havia comido jabuticaba e as contrações começaram a se intensificar, fomos interrompidas por uma forte contração... as 19h40min por ligação, Helena minha doula-backup, avisou que Lucélia estava na casa de parto do Sofia. Me organizei e fui ao encontro do casal.

Cheguei na CPN do Sofia as 20h55min, Lucélia estava na cama do quarto principal. Me saudou com um sorriso e disse da alegria em me ver ali. Ela e Cleber estavam muito próximos de conhecerem sua princesinha. Me posicionei ao seu lado e ali permaneci. Quando as contrações vinham, fazia massagem, segurava sua mão. Lucélia pediu anestesia, explicamos (Bia e eu)que naquele momento a anestesia iria retardar o parto e que provavelmente antes de começar a fazer efeito, Sofia já tivesse nascido. Lucélia então abandonou a idéia, na contração seguinte Sofia apontou, sugeri a ela que colocasse a mão para sentir a cabeçinha de sua filha. Acredito que aquele momento motivou Lucélia, mais duas ou três contrações vieram e em seguida Sofia nasceu,as 21h33min. Cleber esteve todo o tempo do expulsivo presente no quarto, mas preferiu não participar ativamente, para ele era um momento muito intenso.

Quando coloquei Sofia no peito de Lucélia, ela e Cleber choraram de emoção. Pela primeira vez os três se encontraram, foi uma cena linda ver aquela família. Lucélia teve seu tão sonhado parto natural, sem enema, sem episiotomia, sem anestesia e Cleber cortou o cordão umbilical. Sofia nasceu saudável e forte. A mamãe logo após o parto, já estava tomando banho. Lucélia amamentou Sofia na primeira hora e permaneceu com sua filha durante todo o tempo.

Agradeço imensamente à esta linda e abençoada família por me permitir participar de um momento tão especial em suas vidas, e à Deus por dar força e coragem a essas mulheres maravilhosas que parem suas crias da maneira mais bela e natural.


"Parto, Partir, Deixar ir, Libertar, Soltar, Entregar, Trazer à luz, Não é dar a vida. É doar à vida. É desapego. É por isto que dói tanto!" MARIA GORETI ROCHA - Vila Velha/ES


NOTAS DO BLOG:
A reprodução deste relato e das imagens devem ser feitas mediante autorização por escrito;
O relato, como todos os outros neste blog, foi publicado com o intuito de estimular reflexões para situações possíveis durante a gestação, parto e amamentação;
Comentários são bem vindos. Mas caso tenham conteúdo ofensivo, preconceituoso ou sejam desrespeitosos, serão excluídos;
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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

SUNDARI - NATURAL COM BOLSA INTACTA!


POR: ARIANY (Dhanna), mãe e doulada.


Durante o mês de maio senti várias contrações, sendo comum ter uma contração a cada meia hora, num período de uma hora e meia. E esse processo foi novo para mim, apesar dessa ter sido minha terceira gestação! Essas contrações são como preliminares, uma preparação natural do corpo. Algumas mulheres tem e outras não, porém as minhas eram doloridas, o que gerou um incômodo no fim da gestação, pois acordava até na madrugada, sentindo as contrações. Apesar dessa “novidade”, tudo estava bem comigo e minha nenem.

De acordo com o meu ultra-som, eu completaria 40 semanas no dia 25 de maio, mas de acordo com a data da minha menstruação completaria 40 semanas no dia 04 de junho.

Apesar de confiar mais na minha data do que na do exame, a medida em que o tempo ia passando eu ficava mais e mais nervosa. E as contrações doloridas eram minha maior preocupação, então comecei a ficar em alerta desde a última semana do mês de maio.

Todos os dias fazia caminhadas. 
Na última semana de maio comecei a fazer caminhadas mais longas, para estimular as contrações.

No dia 03 de junho eu já estava num estresse fora do normal, sentia medo, angústia, ansiedade e mais um monte de sentimentos e pensamentos que iam se misturando e me sentia muito confusa. Meu instinto dizia que estava tudo bem, que ainda não havia chegado o momento, mas a mente não me deixava em paz, já que de acordo com o ultra-som eu estava com 42 semanas.

Cheguei a chorar compulsivamente! Depois da catarse, respirei fundo e pensei no que eu queria para mim e minha família: um processo forçado ou natural?

Tinha a certeza que ao chegar no hospital com o exame apontando a provável data do nascimento da minha filha, eles iriam forçar. Isso era algo que estava fora de cogitação, a não ser que fosse extremamente necessário.

Fui ao meu local de oração, acendi uma vela, um incenso e desabafei com minha Deusa Mãe. Precisava de força, de me sentir segura. E foi assim que consegui me acalmar.

No dia 05 de junho fomos eu, meu marido e meus dois filhos, para o mercado central de belo horizonte, idéia sugerida pelo meu filho mais velho, Dhayaram, para que eu pudesse caminhar e me distrair, já que a ansiedade era grande.

Fomos para lá ao meio-dia e ficamos até as 16 horas! Depois fomos comer pastel (desejos de mulher grávida *rsrs) e decidi ir ao Sofia Fieldman. Nesse momento as contrações vinham a cada 15 minutos! Chegando lá estava com 7 cm de dilatação, mas as contrações estavam fracas. A enfermeira Cintia, quem fez o acolhimento, foi um amor de pessoa e disse que devido à minha tranquilidade iria me mandar para a Casa de Parto. Mau sabia ela que era essa a minha intenção. Estava muito feliz, pois pensava que em breve veria minha pequena!

Pedi ao meu marido que ligasse para as doulas que iriam acompanhar o parto.
Vanessa e Helena chegaram rápido. Eu já havia tomado banho e estava no quarto com banheira! (o único da casa de parto) 
Os meus filhos estavam agitados. Dhayaram não queria sair de perto de mim, pois queria ver sua irmã nascendo.

Fiz agachamentos, caminhadas com o acompanhamento, hora da Vanessa, hora da Helena, enquanto que o Raja ficava cuidando dos meninos dentro do quarto.
Eram raras as contrações.
Quando viam, elas faziam uma massagem relaxante. A Helena sugeriu o agachamento, que fiz algumas vezes. 

O tempo foi passando, os meninos dormiram e a madrugada chegou. Com ela veio também o cansaço. Eu já não queria mais caminhar para lá e para cá, no corredor da casa de parto. 

Quando me sentava no banco e me inclinava para frente, começava a sentir a contração, que passava logo. Ficamos conversando e a companhia das doulas foi agradável, porque assim eu me distraía. 

Lembrava do parto do Suraj e de como eram fortes as contrações. Eu gritava com Raja para fazer massagem no momento em que vinham, devido à sua intensidade!
E o que eu mais queria, naquele momento era sentir dor!
Estava muito cansada, mas não conseguia descansar.

Helena sugeriu que eu fosse dormir um pouco e aceitei a sugestão.
Tirei só mesmo um cochilo e acho que meia hora depois despertei. Quando saí do quarto vi a Vanessa e a Helena sentadas no banco e voltamos a conversar. A tecnica em enfermagem que estava de plantão estava lá também. Aproveitei para perguntar a ela o que aconteceria caso as contrações não viessem, se eles iriam usar ocitocina. Ela disse que mesmo estando na casa de parto, devido à demora do meu trabalho de parto, poderia acontecer isso, já que eu estava com 10 cm de dilatação. 

Aquilo me deixou em alerta e veio a insegurança e o medo.

Comecei a me sentir culpada por não ter contração (sei que não tem nada haver, que eu não tinha culpa alguma, mas naquele momento esse pensamento martelava em minha cabeça).

No parto do Suraj deixei que a bolsa fosse rompida, pois já estava com a dilatação completa. De acordo com o Edvan, enfermeiro que assistiu ao parto do Suraj, eu ficaria ali, sentindo dor desnecessariamente, até que a bolsa rompesse naturalmente. 
Conversando com a Vanessa descobri algo novo: é possível um parto com a bolsa intacta, mas que isso era algo raro e que até acredita-se que as crianças que nascem dessa forma são protegidas. Chegamos à conclusão de que hoje em dia não se espera para ver se a criança vai nascer com a bolsa intacta: eles (os médicos) não esperam.

Assisti um parto desse no youtube e fiquei encantada. Talvez se tivesse esperado, Suraj teria nascido dessa forma. Então, como não foi possível antes, queria que dessa vez fosse mais natural ainda, nada de romper a bolsa, nem quando chegar à dilatação completa.
Tudo isso estava no meu plano de parto, mas o fato de não ter contrações (nada mesmo) aliado ao pavor de ter que me submeter ao soro e, se não resolvesse, a uma cesárea, me deixou angustiada. 
Sentada ao lado da Vanessa eu disse que estava pensando em aceitar a sugestão da Joana, enfermeira de plantão, de romper a bolsa, para estimular as contrações.
No mesmo instante Vanessa me perguntou se era isso mesmo o que eu queria.
Aquilo me fez lembrar do que eu queria.

Joana fez o monitoramento dos batimentos cardíacos do bebê e tudo estava bem.

O sol estava nascendo e passamos a noite em claro: eu, as doulas e meu marido.

Eu precisava descansar, dormir na minha cama, estar num lugar em que me sentia mais segura e sem me sentir pressionada, com receio de que a qualquer momento alguém viesse até mim e dissesse que eu teria que me submeter a algum processo que não estava nos meus planos.
Toda essa pressão não estavam me fazendo bem.
Conversando com meu marido decidimos, juntos, que iriamos para casa, mesmo sabendo do risco iminente, já que ela poderia nascer a qualquer momento.

Pensei: na “pior” das hipóteses, ela nasce em casa.

O meu receio era o de o hospital não me liberar, já que no parto do meu primeiro filho o médico não autorizou minha saída do hospital, quando eu estava com 6cm de dilatação.
Para minha surpresa, Joana disse que eu poderia ir para casa, mas que não me daria alta, como se eu nem tivesse saído de lá. Só pediu para que esperasse a Cibili, enfermeira que iria dar plantão no domingo.

Cibili quis ver como estava a bolsa, averiguar se havia presença de mecômio. 
Para minha despreocupação, os batimentos cardíacos da nenem estavam ótimos e o líquido aminiótico estava “clarinho”. 
Foi possível ver porque a bolsa já estava baixa demais.

Tivemos uma conversa de 15 minutos apenas, o suficiente para saber que existem pessoas que acreditam na força da ntureza, da vida!
Ela me disse que seus partos haviam sido em casa e que eu, com a tranquilidade na qual estava, se acontecesse seria muito tranquilo.
Foi o suficiente para me sentir mais segura e saber que aquela era a decisão mais certa a ser tomada, naquele momento.

Não queria decepcionar ninguém, por isso conversei com a Vanessa e a Helena, e elas foram muito acolhedoras, apoiando minha decisão, o que foi de extrema importancia.

A primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi dormir.
Umas três horas seguidas.
Tomei café da manhã e fui dormir mais. 
Passei o domingo dormindo...
Não sentia contrações!
Por volta das 18:00hrs fui até meu altar, fiz minhas oferendas e chorei muito!
Por mais que eu confiasse, a mente voltava a me atormentar e eu precisava ser forte e apenas confiar.
Meu altar, com minhas Deusas grávidas, era um ponto no qual eu me apoiava e foi meu porto seguro emocional.

Fomos todos para o Templo Hare Krisna.
Tendo dois meninos “espertinhos”, subi e desci as escadas diversas vezes e, por mais que meu marido se oferecesse para cuidar dos meninos, eu fiz questão pois me distraía.

Dancei um pouco, depois comemos prashada e conversei com as pessoas sobre tudo, exceto gravidez e parto (rs), o que me deixou bem relaxada.

Voltamos cedo para casa, por volta das 21:00hrs, por causa do frio.
Deitei com o relógio do lado.
Acordei às 2:25hrs com uma contração.
Acordei meu marido e continuei deitada.
Veio outra, às 2:35hrs. Levantei e fui ao banheiro.
2:40hrs, mais uma contração e eu comecei a rir!!!
Já fui trocando a roupa e meu marido foi para o carro.
Já não olhava no relógio, as contrações eram seguidas!

Eu cantava e gritava bem alto, dentro do carro, a cada contração e depois começava a rir, não conseguia parar com essa tempestade emocional.
Estava realmente muito feliz.
Ao chegar na casa de parto, às 3:00hrs, me agachava a cada contração e percebi um pouco de sangue.

Quando a contração parava eu dava uma “corridinha”, para chegar logo no quarto.
Joana já me esperava e foi enchendo a banheira.

Me agachei no chão frio do quarto e ela me disse para subir na cama.
Eu disse que ficaria ali, no chão, até que a banheira estivesse pronta.

Ela perguntou: _Vai querer que sua filha nasça aí, no chão?
Claro que não! pensei comigo mesmo, mas só levantaria para ir para a banheira.

Eu fiquei calada e continuei ali.

Assim que a contração parou, levantei sozinha e “pulei” na banheira, que ainda estava enchendo.

Deitei de lado na banheira, essa era a posição mais confortável naquele momento.
O trabalho de parto agora era pra valer. Podia literalmente tocar na bolsa!

Então ela descia e eu só pensava em não fazer força, para que tudo fosse o mais suave possível.

Joana trouxe o som, com uma música bem suave... a luz também era, num tom azulado, tranquilizador.
Isso durou 25 minutos e a Joana comentou que esse era um momento expulsivo lento, ela parecia nem acreditar no que estava presenciando.

De repente saiu a cabeça e eu vi minha filha dormindo, através da bolsa!

Abriu os olhos e fechou novamente, super tranquila!

Ela foi saindo bem devagar, com a bolsa intacta!

Ela fez um movimento de impulso com as pernas, quando saiu completamente, rompendo a bolsa. Depois, ainda dentro d’água, voltou a dormir.

Ela ficou dentro da banheira por 8 minutos, acordando e dormindo...

Quando saiu da água, permaneceu em meus braços e ficamos ali, papai, mamãe e filhinha, sem que ela chorasse, expelindo o líquido naturalmente, sem nenhuma intervenção.
Foi quando me dei conta de que a banheira estava vermelha de sangue e comecei a me sentir muito mau, fraca...Eu não me lembro, mas a última coisa que disse à câmera foi:
_Estou sentindo muito dor.

De relance, vi meu marido, de roupa, dentro da banheira, cortando o cordão umbilical depressa e retirando a Sundari dos meus braços. 
Depois apaguei.
Me lembro de pedir sal, sentia minha pressão abaixando e apaguei novamente.
Acordei com o soro no braço e meu marido dizendo que nossa filha estava com fome.
Ele a colocou do meu lado e apaguei denovo. 

Não me lembro da primeira mamada.

Acordei às 6:00hrs com meu marido, dizendo que iria para casa por causa dos nossos outros dois filhos. Eu concordei e dormi um pouco, com nossa filha do lado, já estando mais consciente.

Acordei às 9:00hrs, ainda me sentindo fraca, e percebi que minha filha estava enrolada somente num pano e com muito frio, eu também estava. Tentei chamar a enfermeira, que só apareceu meia hora depois. Pedi para que colocasse roupa em minha filha.

Comi missô puro, o que me deu mais ânimo. O enfermeiro de plantão insistiu para que eu me levantasse e tomasse banho. No meio do caminho, estando amparada pela enfermeira, caí no chão, desmaiando novamente.

O motivo do sangramento não foi dito e, pela postura de todos, eles não sabiam o que havia acontecido.

Na parte da tarde chegaram meus filhos e marido!
Já me sentia melhor, andando sem apoio.
Sundari foi muito bem recebida pelos irmãos.

Enquanto fiquei no quarto, com meus filhotes, meu marido foi convidado a dar uma palestra no hospital, sobre o parto natural, já que eu não aceitei nenhum tipo de interferência, nem mesmo aquelas que o pessoal da casa de parto acredita fazer parte do “parto natural e humanizado”, coisas como romper a bolsa ou estimular o parto.

Para minha alegria, fui liberada no mesmo dia, às 18:30hrs, voltando para casa com minha família!

Sundari teve apgar 9/10.



NOTAS DO BLOG:
Esse relato foi escrito pela mãe do bebê e cedido ao blog;
A reprodução dele e das imagens devem ser feitas mediante autorização por escrito;
O relato, como todos os outros neste blog, foi publicado com o intuito de estimular reflexões para situações possíveis durante a gestação, parto e amamentação;
Comentários são bem vindos. Mas caso tenham conteúdo ofensivo, preconceituoso ou sejam desrespeitosos, serão excluídos;
Você também quer dividir a sua história*? Mande-a para o e-mail: vanessadoulamg@yahoo.com.br
* os relatos enviados devem contar a SUA experiência. Fotos e textos enviados poderão ser publicados sem aviso prévio.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

*RELATO DA MINHA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA COMO DOULA - QUASE PARTO DE ARIANY


No sábado, 05 de junho de 2010, às 20h35min recebi uma ligação de casa, era minha mãe avisando que Ariany havia dado entrada na casa de parto natural - CPN do Sofia Feldman. 

Naquele momento eu estava saindo da casa de uma amiga, a caminho da minha casa. Lembro que minha amiga, sua irmã e sua mãe conversavam muito, mas eu estava desconectada só conseguia pensar naquele momento e imaginava como seriam as horas seguintes, naquele carro a única pessoa que de certa forma me compreendia era o Luis Fernando, sobrinho de 1a3m da minha amiga. Ele segurava o meu dedo indicador e eu conseguia sentir um calor, uma energia que me acalantava. Ao subir as escadas do prédio onde moro, estava tomada por um misto de sentimentos (euforia, alegria, medo, insegurança), acho que era a adrenalina surtindo efeito. 

Assim que cheguei ao meu apartamento fui ao encontro da minha mãe para saber mais informações, ela apenas me confirmou que Ariany havia ligado me procurando para informar que acabara de dar entrada no Sofia Feldman. Então liguei para Helena, minha doula-backup-companheira-amiga, lembro que quando ela ficou de olhar e me ligar em seguida para dizer se iria ou não me acompanhar, eu senti um certo medo e vontade de desistir, sei lá, não me senti pronta para viver aquele momento sozinha. Mesmo assim, desliguei o telefone, chamei um táxi e peguei minha mochila. Logo em seguida Helena me ligou confirmando sua presença, o que confesso ter me acalmado. Entrei no táxi e a caminho da Maternidade meditava e pensava: 
“Tudo dará certo, você está pronta”, quando o nervosismo apertava eu resgatava a técnica de envelope do corpo que durante o curso Mariana dividiu conosco, e assim foi durante todo o percurso. Cheguei na CPN acredito que eram 21h30min, quando abri a porta encontrei Dhayaram, 6 anos, filho mais velho de Ariany e Raja, ele me abraçou e disse: “Vanessa a mamãe tá tendo contrações, vem!”, abracei Ariany que estava com uma feição serena e disse: “Que bom que você veio”, saudei Raja seu esposo e abracei Suraj, 4 anos, também filho do casal. 

As crianças estavam muito ansiosas, falando muito e querendo me mostrar tudo no quarto, inclusive a banheira que Dhayaram tanto queria entrar. 


↓Dhayaram fazendo massagem na mamãe


Ariany e eu fomos para o corredor caminhar e conversar um pouco, ela me contou que quando foi encaminhada para a CPN estava com 7 centímetros de dilatação e que as contrações estavam vindo brandas e a cada 10 minutos. Sugeri um pouco de caminhada e banho quente de chuveiro. 

Na primeira contração que presenciei, Ariany se apoiou à mesa e fiz uma massagem, nesse momento Helena me ligava avisando que já estava próxima. A contração passou e Ariany e eu continuamos nossa caminhada. Logo depois Helena chegou e ficamos as 3 caminhando e passando pelas contrações juntas, Helena fazia massagens e eu respirava junto com Ariany. 

Durante toda a madrugada Ariany se revezava entre banheira, caminhada e bola; e eu e Helena entre lhe auxiliar e distrair as crianças que continuavam muito ansiosas. 

↓Ariany revezando entre o uso da bola e da banheira nos momentos de contração.

Raja por diversas vezes se exaltava com os meninos e Ariany intermediava. Acredito que Helena, assim como eu, percebeu que teríamos que abrandar aquela situação. Após muito “passear” com os meninos eles se renderam ao sono. Agora poderíamos assistir Ariany de forma mais ativa. Caminhamos por um longo tempo com Ariany e mais ou menos 2 horas da manhã as contrações se ritmaram e passaram a acontecer de 8/8’’ e depois de 5/5’’, Ariany foi bastante ao banheiro e acreditei que a hora estava próxima. Mas apesar dos meninos estarem dormindo, Raja conversava muito sobre assuntos diversos com Ariany e conosco, o que acabou nos desfocando daquele momento. Por algumas vezes, eu me voltava para dentro, para aquele momento e percebia cada contração de Ariany, respirávamos juntas eu e ela, e quando passava olhávamos uma para outra, era um gesto que simbolizava “mais uma, que passamos juntas”, confesso que isso me afagava o ego, sentia em vários momentos uma alegria imensa por estar finalmente ali, fazendo o que tanto sonhava; e a cada olhar da Ariany eu sentia que estava junto a ela, conectada, solidária aquele momento. Infelizmente não fui capaz de intervir nas interferências/conversas de Raja, que acredito terem contribuído para a regressão das contrações de Ariany, claro que a intenção dele era a melhor possível, ele queria nos relaxar. 

Durante o resto da madrugada tentamos fracassadamente, Helena e eu, intensificar as contrações. Não era para ser naquele dia, me conforto nesse pensamento. Ariany já reclamava exaustão, como nenhuma de nossas ações foram capazes de engrenar o parto, achamos por bem que Ariany fosse se deitar e descansar um pouco, com a esperança que quando acordasse entraríamos em fase expulsiva. Para nosso desgosto, o descanso fez com que as contrações diminuíssem ainda mais. Ariany, conversou com a técnica de enfermagem que confirmou que o trabalho de parto-TP estava se estendendo. Ariany cogitou pela primeira vez uma possível ruptura de bolsa, o que em seu plano de parto-PP era totalmente descartado. Nesse momento fiquei extremamente chateada, senti que as coisas estavam tomando um caminho perigoso, lembrei da cascata de intervenções, mas me contive e apenas lembrei a ela das suas escolhas no PP. Ariany e Raja voltaram para o quarto, lembramos a eles que depois de rompida a bolsa o bebê teria um tempo para nascer. Raja sugeriu que conversássemos com a enfermeira sobre uma possível liberação para que Ariany e eles fossem para casa descansar e quando as contrações ficassem intensas, voltássemos para o hospital, já que eles residiam próximo ao Sofia. Helena e eu apoiamos a idéia e esclarecemos que essa como uma decisão do casal, deveria ser conversada com o hospital por eles. Joana, a enfermeira de plantão disse que por ela tudo bem, mas pediu que esperássemos a troca de plantão, para que a Sibylle, enfermeira responsável pelo plantão do dia examinasse Ariany e a liberasse também, já que provavelmente voltaríamos no plantão dela. Sibylle examinou Ariany e constatou que estava tudo bem com ela e com o bebê. Por volta das 8 horas da manhã fomos todos liberados, nos despedimos de Ariany, Raja e os meninos. Na volta para casa, Helena e eu conversávamos sobre a experiência até o momento, e sobre a possível volta à CPN. 

*NASCIMENTO
Sundari, menina linda, nasceu em 7 de junho de 2010, as 2h35min na banheira da CPN do Sofia Feldman, pesando 3,235kg, medindo 49cm, com apgar 9. Infelizmente eu e Helena não estávamos presentes, mas estamos extremamente felizes pelo nascimento sereno e mágico de Sundari, ela nasceu em seu tempo, seu momento, sem interferências. Ariany teve uma hemorragia, desmaiou após a expulsão, recebeu 4 soros para re-hidratação, mas passa bem e está em casa com sua pequena flor desde as 18horas do dia 7. 

*VISITA DA DOULA
Fui conhecer Sundari dia 21 de junho. É uma menina linda!!! Gordinha, rosada, sorridente e muito atenta a tudo. Mama que é uma beleza! Ariany também está muito bem, se recuperando da perda de sangue e com muito leite para sua pequena.

↓Momento de intimidade entre mãe e bebê


↓Sundari mamando muito


*ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
→Raja foi um pai extremamente participativo durante todo o processo. Fazia massagens, acariciava, passava segurança, tentava manter a ordem, conversava, lembrava Ariany de suas escolhas, entre outras coisas.
→Dhayaram e Suraj assim como crianças que são, ficaram muito ansiosos durante nossa estadia na CPN, mas demonstraram a todo tempo o carinho com a mãe e a irmãzinha que estava chegando.
→Durante o curso de doulas e meus estudos sobre pré-parto, parto e puerpério, sempre lia e ouvia: “deixe acontecer naturalmente, não interfira”. Acreditava que eu já tinha entendido o significado dessas palavras e que não seria difícil agir assim. Hoje, depois de ter passado por essa experiência, percebo o quão é difícil simplesmente não interferir. Não falo só de interferências de instrumentos médicos, mas da minha própria ansiedade para que o parto acontecesse e tudo desse certo. 
→Recordando a madrugada do dia 06 de junho, vejo o quanto algumas ações minhas podem ter interferido nas reações de Ariany. Ariany teve acesso a muitas coisas que estudamos para ajudar no parto: alimentação, apoio do esposo e filhos, massagens, caminhadas, posições, ambientalização, carinho, acompanhamento de bons profissionais (enfermeira, técnica de enfermagem, doulas), fisiologicamente também estava pronta para o nascimento de sua filha; e mesmo assim algo travava o nascimento de sua pequenina. 
→Essa experiência foi maravilhosa, principalmente porque me conheci ali, consegui mais tarde perceber o que realmente significa “deixar acontecer, não interferir”. 
→Após conversar com Ariany, chegamos à conclusão que algumas ações, como andar, cansam muito a mãe e acabam atrapalhando o TP.
→A presença de duas doulas também acho arriscado, segundo o relato da própria Ariany, ela se sentia em alguns momentos pressionada a “dar conta do recado”, ela me contou que por várias vezes sentia vontade de parar, sentar, mas que quando olhava pra mim e Helena, lembrava que tinha que andar, fazer posições, induzir o nascimento. Mesmo que não falássemos e nem propuséssemos nada, ela se sentia super estimulada.
→Outra coisa muito importante que cheguei à conclusão é que não somos nós profissionais, familiares ou a mãe que fazem o parto, a verdadeira protagonista da história é a criança.
→A possibilidade de acompanhar Ariany em TP foi um presente incrível, me sinto mais empoderada e consciente das minhas limitações.

*AGRADECIMENTOS
Agradeço a Rebeca pelo convite para acompanhar Ariany, experiência inesquecível.
As doulas da associação Minas de Doulas, que me orientaram e apoiaram.
À Helena, minha amiga-companheira de aprendizado-doula backup, pelo apoio, carinho, ajuda no pré-parto, acolhimento e inúmeras conversas por telefone e internet.
Aos meus familiares e amigos por me aturarem falando copiosamente sobre a situação.
E é claro, meus agradecimentos sinceros à Ariany e Raja que me permitiram participar de um momento tão íntimo de sua família. Sem dúvidas vocês ficarão guardados em meu coração e memória, já fazem parte da minha história!

↓Dhayaram, Suraj, Ariany, Sundari e Raja


↓Sundari, super sorridente

↓Helena, amiga-doula backup-companheira




VANESSA AVELINE
DOULA, MULTIPLICADORA E GRADUANDA DE ENFERMAGEM 

TP: TRABALHO DE PARTO
PP: PLANO DE PARTO
CPN: CASA DE PARTO NATURAL