quinta-feira, 23 de junho de 2011

Fumar na gravidez reduz taxa do bom colesterol nas crianças



Segundo o estudo, filhos de mães que fumam na gravidez apresentam taxas de colesterol HDL de 1,3 milimol por litro, contra 1,5 de filhos de mães não fumantes


LUIZ COSTA

O cigarro durante a gravidez pode trazer riscos para o bebê


Fumar durante a gravidez reduz a taxa de colesterol "bom" (HDL) na criança, segundo um estudo realizado por pesquisadores australianos com crianças de oito anos divulgado no site do European Heart Journal, órgão da Sociedade Europeia de Cardiologia.

Segundo o estudo, os filhos de mães que fumam durante sua gravidez apresentam taxas de colesterol HDL de 1,3 milimol por litro, contra 1,5 no caso dos filhos de mães não fumantes.

Após levar em consideração diversos fatores (exposição ao tabaco depois do nascimento, duração da lactância, falta de atividade física, massa corporal), a diferença entre uns e outros era de 0,15 mmol/l.

A diferença foi considerada significativa, segundo este estudo elaborado com 405 crianças de oito anos de idade em bom estado de saúde.

Segundo David Celermajer, professor de Cardiologia na Universidade de Sydney, "os resultados indicam que o tabagismo da mãe gera características negativas na saúde do feto, o que pode deixá-lo predisposto no futuro a ataques cardíacos". Tais efeitos parecem durar pelo menos oito anos e, segundo ele, provavelmente, muito mais tempo.

O professor destaca que os níveis de colesterol "tendem a se manter da infância à idade adulta", e que alguns estudos demonstraram que cada aumento de 0,025 mmol/l nos níveis de colesterol HDL "reduz aproximadamente entre 2 e 3% o risco de problemas coronários".

A diferença de 0,15 mmol/l entre os filhos de mães fumantes e não fumantes representar para os primeiros um aumento dos riscos de problemas coronários "de entre 10 e 15%", de acordo com o especialista.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O QUE DEVEMOS SABER SOBRE EXERCÍCIOS NA GRAVIDEZ

Os benéficos proporcionados pela prática dos exercícios são diversos e já bem conhecidos da população em geral. No entanto, durante a gravidez ainda há muitos mitos, medos e preconceitos em relação aos exercícios físicos nesta fase. A cada dia a literatura científica esclarece mais e mais sobre estes benefícios. Porém quando a grávida resolve que quer iniciar sua prática muitos indicam apenas a hidroginástica como “o melhor exercício”. A educação física tem evoluído muito e o número de programas de exercícios existentes atualmente é muito grande. Um profissional bem preparado é capaz de proporcionar á gestante um leque muito amplo de atividades dentro e fora d’água.

Gestante fazendo exercícios físicos

Por isso mais do saber o tipo de exercícios que a grávida pode fazer, devemos nos preocupar com a intensidade, a duração e a freqüência que estes exercícios devem ter. Além disso, o profissional que está prescrevendo exercícios para as grávidas deve conhecer os cuidados a serem tomados de acordo com as alterações fisiológicas de cada trimestre.

De maneira geral, vou deixar aqui algumas dicas para as grávidas:
  • Escolha uma roupa confortável e que facilite a transpiração;
  • Beba água antes, durante e após a atividade para que não haja aumento de temperatura corporal;
  • Escolha lugares ventilados e horários de menos calor;
  • Evite atividades com mudanças de direção e giros, pois há riscos de quedas e entorses por diminuição do equilíbrio e frouxidão ligamentar;
  • Evite atividades com saltos e corridas, pois de maneira geral são atividades intensas e, além disso, prejudicam o assoalho pélvico aumentando o risco de incontinência urinária;
  • Não realize exercícios sem se alimentar, há riscos de hipoglicemia (diminuição da glicose no sangue), o mesmo risco pode acontecer se a atividade for muito intensa ou prolongada (mais de 45 minutos contínuos);
  • Qualquer exercício realizado nesta fase deve ter intensidade leve à moderada, uma maneira fácil de controlar a intensidade do exercício é usar uma escala de 0 a 10, em que zero é uma atividade muito, muito fácil e 10 é muito, muito difícil.
As recomendações internacionais relatam que tanto sedentárias como ativas antes da gravidez podem realizar exercícios durante a gestação. Alguns autores recomendam para as mulheres sedentárias iniciarem os exercícios apenas após o primeiro trimestre. Além disso, o médico deve ser consultado sobre a decisão de realizar exercícios, pois existem restrições absolutas e relativas à sua prática como, por exemplo, mulheres hipertensas e diabéticas que só podem realizar exercícios se tiverem com a doença bem controlada.

É errado pensar que a gravidez não é o melhor momento para iniciar ou continuar a se exercitar. Ao contrário, alguns autores descrevem que a gravidez é uma fase perfeita para a mulher iniciar um programa de exercícios e a partir daí tornar-se uma pessoa ativa. Um estilo de vida ativo é a melhor opção para uma gravidez saudável. Agite-se. 

sábado, 26 de fevereiro de 2011

COM A VIDA NAS MÃOS

Da Redação - Correio Braziliense
17/01/2011 15:05


Apesar de ainda não regulamentada, profissão de doula ganha crescente espaço no mercado. Exclusiva para mulheres, a carreira é voltada para a assistência a gestantes e maridos
Carlos Moura/CB/D.A Press

A psicóloga e doula Clarissa Kahn oferece, entre outras atividades, cursos a futuros pais
O momento de dar à luz uma criança é sempre motivo de preocupação para as mulheres. Quem espera um filho idealiza como será o grande o dia, se fará uma cesária ou um parto normal. Nenhuma mãe quer que esse seja apenas mais um procedimento de rotina: tem que ser um momento especial. Para tornar esse desejo possível, novas profissionais estão fazendo sucesso no mercado de trabalho. São as doulas, trabalhadoras especializadas na humanização do parto, ou seja, voltadas à garantia do bem-estar, do respeito, da calma e até da redução das dores na hora de trazer o bebê ao mundo. Com curso de formação específico para a atuação, as doulas cobram de R$ 300 a R$ 1,7 mil por cada concepção que ajudam a realizar e podem utilizar os conhecimentos na área como complementação de outras carreiras.

Normalmente, essas especialistas são médicas, enfermeiras, professoras de educação física, ioga ou pilates, nutricionistas ou de outra área de formação afim. Qualquer mulher com mais de 18 anos pode fazer o curso. “A capacitação para as doulas engloba algumas técnicas (veja quadro), como posições que podem aliviar as dores. São métodos não farmacológicos que podem tornar o momento menos traumático”, relata Daphne Rattner, professora da área de saúde coletiva da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora executiva da Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (Rehuna).

Além disso, quem ingressa nessa carreira pode ajudar a mudar o entendimento mecanizado sobre o parto, ainda presente em livros e equipes médicas. “Alguns obstetras com muito tempo de profissão adotam a metáfora de ‘motor, objeto, trajeto’ para as etapas de um parto. O motor é o útero, o objeto é o bebê e o trajeto, o canal vaginal por onde a criança sairá. Mas, na verdade, quem está trabalhando ali, naquela hora, também é humano, não se pode pensar assim. E as doulas mudam isso desde o pré-parto até os primeiros momentos da amamentação”, analisa Daphne Rattner .

E foi ao perceber essa realidade, ainda durante o curso de graduação, que Clarissa Kahn, 30 anos, decidiu se tornar doula. Psicóloga e educadora perinatal, ela conta que resolveu colaborar na mudança daquilo que via nas maternidades. “Sempre gostei da área materno-infantil . Fiz estágio em hospitais, e a forma como mães eram assistidas no momento da concepção me incomodavam bastante. A falta de respeito e o excesso de intervenção médica nas escolhas das mulheres eram algumas das minhas principais preocupações. Então, decidi fazer o curso e me formar doula também”, conta.

Após 10 anos atendendo a grávidas, a também coordenadora do Espaço Acalanto conta que tem um preço pré-definido para realizar o atendimento, mas que as tarifas dependem do pacote que a mãe deseja fechar e das condições expostas por cada casal. Clarissa ministra cursos de cuidado com o bebê e com a amamentação, faz todos os acompanhamentos e cobra de acordo com o solicitado. Embora ela coordene a clínica, suas clientes são conquistadas por meio de indicações ou após consultas.

Reconhecimento
Atualmente, as doulas podem abrir uma clínica, atender em casa ou se filiar a profissionais que lidem diretamente com as grávidas e as indiquem. Mas, embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde reconheçam as vantagens da presença da doula na hora do parto, ainda não há um reconhecimento da profissão. Por isso, elas não podem ser contratadas em hospitais. Trabalham por meio de contratos formais ou acordos com os futuros pais. “Quem abre uma clínica exclusivamente para esse fim terá que contar com outras parceiras, pois as grávidas começam a ser atendidas no sétimo ou no oitavo mês e, a partir daí, há um acompanhamento até o pós-parto. Por isso, só é possível atender de quatro a cinco parturientes por mês. As interessadas precisam analisar quanto desejam ganhar e como vão gerir essa clínica”, aconselha Renata Beltrão, pedagoga especialista em saúde perinatal, educação e desenvolvimento do bebê e representante brasileira na Rede Latino-americana de Doulas.

Estima-se que hoje existam cerca de 1.500 mulheres atuando no setor. Ao apresentar esse dado na 3ª Conferência Internacional sobre Humanização do Parto e Nascimento, que aconteceu em novembro último, em Brasília, Renata Beltrão pediu e conseguiu apoio para pleitear a inclusão das profissionais no Manual de Ocupação Brasileiro. “Não é difícil. Basta que tenham mais de 200 pessoas trabalhando na área. Hoje, trabalhadoras como parteiras e manicures, por exemplo, já estão incluídas”, observa. O documento deve ser encaminhado para o Ministério do Trabalho entre abril e maio deste ano e, se aprovado, vai possibilitar que elas possam ser contratadas mediante a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e que tenham reconhecimento.

Nos Estados Unidos, as contratações em hospitais privados são comuns. Para exercer a ocupação, as doulas norte-americanas recebem uma certificação que precisa ser atualizada a cada dois anos. Segundo Renata Beltrão, a intenção é que esse nível de reconhecimento chegue ao Brasil. “Só no Doularte, onde ministro aulas, recebo 20 pessoas mensalmente querendo fazer o curso. Como a procura por esse tipo de trabalho tem aumentado, a demanda pelo aprendizado também cresceu muito. O reconhecimento será fundamental para nós”, pontua.

Além disso, a regulamentação pode diminuir a resistência que as direções de hospitais ainda têm de aceitá-las em salas de parto. Em Brasília, as maternidades já estão conscientes da importância das doulas, mas, em outras regiões, há médicos que ainda se opõem ao parto humanizado. Embora esse procedimento possa ser realizado em casa, as grávidas que desejarem ter a estrutura de um hospital com o acompanhamento de sua doula precisam ter esse direito. “Elas são o apoio da mãe. É importante lembrar que essas profissionais não fazem parto ou qualquer outro procedimento cirúrgico. O apoio fornecido por elas é apenas emocional e de indicações para melhorias físicas”, complementa Daphne Rattner.

Incentivo estatal
Em 2003, o Ministério da Saúde desenvolveu um programa de treinamento de doulas comunitárias. Dois anos depois, 370 mulheres já estavam treinadas em 13 estados brasileiros. A ocupação não era muito conhecida naquela época, mas Recife, Belo Horizonte e Fortaleza deram continuidade ao incentivo da atuação e, hoje, têm hospitais com excelência no tratamento às gestantes. Todas são voluntárias e trabalham em um regime de 12 horas de plantão por semana.


Conhecimento
Conteúdos que uma doula aprende antes de atender as futuras mães

» Cultura do parto

» Humanização do parto baseado em evidências científicas, com base em referência das Organização Mundial de Saúde (OMS)

» Rotinas hospitalares

» Tipos de parto

» Oficina de sexualidade

» Revisão da anatomia feminina e da fisiologia do parto

» Métodos de alívio farmacológico e não farmacológico da dor

» História da doulas e evidências científicas

» Cuidados que a doula oferece (apoio emocional no trabalho de parto, técnicas de relaxamento, exercícios para o períneo, respiração e visualização, exercícios, posições e massagens que facilitam o trabalho de parto, contato pré e pós-natal, a ética do cuidado)

» Nutrição no trabalho de parto

» Lutos e perdas no parto

» Revisão do desenvolvimento fetal

» Recepção do bebê na primeira hora

» Amamentação na primeira hora

CUIDADOS ESPECIAIS

Mulher protegida antes da gravidez


As mulheres podem proteger seus bebês mesmo que ainda nem estejam no plano dessas futuras mamães. Muitas mulheres nem sabem que existem maneiras seguras de evitar complicações antes mesmo de ver a barriga crescendo.

E uma ótima maneira de proteger um futuro filho é vacinando a mulher em idade fértil.

A vacinação em mulheres em idade fértil ou em tratamento de fertilidade é fundamental para prevenir as mulheres de algumas doenças, além de proteger futuros bebês de malformações ou até mesmo de um aborto espontâneo.

Sabe por que muitas mulheres não se atentam a esse importante aliado na gestação de um bebê? Porque muitos profissionais sequer abordam esse assunto com elas.

A Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva publicou um relatório em novembro de 2008 no jornal "Fertility and Sterility" relatando que menos de 60% dos médicos ginecologistas e obstetras pedem o histórico de vacinação de suas pacientes e apenas 10% prescrevem as vacinas indicadas para as mulheres em idade reprodutiva.

O recomendado é vacinar a mulher antes da gravidez. Há vacinas que não podem ser oferecidas para as mulheres grávidas. É preciso esperar pelo menos um mês entre a administração das vacinas com vírus vivos e a concepção.

Vacinas - Aqui estão algumas das vacinas indicadas para as mulheres em idade de reprodução. Saiba os riscos que a mulher poderá ter caso ela não seja vacinada contra determinadas doenças. Portanto, se cuide!

Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) – A mulher grávida que adquirir rubéola poderá causar malformações no feto, como surdez, catarata, glaucoma, problemas cardíacos e neurológicos.

Contra a varicela - Se o contágio for aos três primeiros meses de gestação, pode causar malformação do feto (abrangendo membros, órgãos e o cérebro) e até mesmo a morte dele. Caso a gestante contraia a varicela alguns dias antes do parto, o bebê tem grandes riscos de nascer com varicela neonatal.

Gripe – O risco de a gestante evoluir para uma pneumonia em conseqüência de uma gripe é cinco vezes maior. As mulheres que não receberam a vacina antes da concepção poderão se vacinar a partir do segundo trimestre da gravidez no período de maior circulação do vírus (inverno).

Tríplice bacteriana acelular para adultos – (dTap - difteria, tétano e acelular coqueluche) – Tanto mamães como todos que estão em volta do futuro bebê devem tomar a vacina para não transmitir para o pequeno. A coqueluche pode causar pneumonia, insuficiência respiratória aguda e convulsões levando à paradas respiratórias com risco de deixar sequelas mentais e motoras por falta de oxigenação do cérebro. Mulheres que receberam a dT há mais de dois anos podem tomar a dTap antes da gestação ou após o parto.

Hepatite A – Deve ser solicitado os testes sorológicos para verificar se a mulher é ou não imune à hepatite A. As suscetíveis devem ser vacinadas antes da gestação.

Hepatite B – A mulher portadora de hepatite B pode transmitir o vírus ao bebê durante o parto. Até 90% dos filhos das mães com hepatite B correm o risco de se tornarem portadores crônicos e ter seqüelas como cirrose e câncer hepático.

Pneumocócica 23 valente - É indicada apenas a mulheres que tenham doenças crônicas cardíacas, pulmonares, renais, diabetes, imunodeficiências e desprovidas de baço, pois estão mais propensas a doenças pneumocócicas invasivas.

Meningócica – No Brasil, a vacina meningocócica conjugada contra meningococo C tem sido recomendada em diversas regiões e é indicada principalmente a grupos de risco (falta de baço, imunodeficientes) ou durante surtos e epidemias, para maiores de dois anos de idade.

Estando com o calendário de vacinação em dia, mamãe está privada contra doenças que são prejudiciais a si e ao seu bebê, não expondo seu bebê ou futuro bebê ao risco de contrair alguma dessas doenças que podem ser fatais.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

“Eu fiz o parto do meu filho, não o médico”


A luta de uma mulher para conseguir um parto natural nos dias de hoje
ELIANE BRUM

Sempre quis entender por que uma mulher prefere passar por uma cirurgia que exige um corte transversal de 10 a 15 centímetros e atravessa sete camadas de tecido do que ajudar seu filho a nascer da forma mais natural. Segundo a Organização Mundial da Saúde, apenas 15% dos partos têm indicação de cesariana. Mas, no Brasil, oito de cada 10 partos na rede privada são cirúrgicos. E, assim, os bebês brasileiros cujas mães têm plano de saúde nascem em horário comercial e o que era natural virou exceção. Por quê? E para o benefício de quem? 

Já ouvi dezenas de vezes a justificativa de que a cesariana “é mais prática, cômoda e indolor”. Prática, cômoda e indolor para quem? Talvez seja mais prática, cômoda e indolor para o médico, que não vai ser acordado no meio da noite nem ter de desmarcar compromissos e consultas para acompanhar um processo natural durante horas. Mas, para a mulher, os fatos provam que não. Ainda que o parto natural leve mais tempo, assim que a criança nasce não há mais dor. Já a recuperação da cesariana pode levar semanas e até meses, quando tudo dá certo. Sem contar os riscos inerentes a uma cirurgia de grande porte. Há poucos dias, ao visitar uma amiga que acabou de ter seu segundo filho por cesariana, ela me disse: “A dor que senti ao tentar levantar depois da cesárea foi muito maior do que todas as dores do parto natural do meu primeiro filho. Não entendo como alguém pode achar que isso é melhor”. 

Também já perguntei a alguns obstetras por que fazem tantas cesarianas. E a resposta de todos foi: “Porque nenhuma das minhas pacientes quer ter parto natural”. Será? Sempre desconfiei que parte dos médicos não sabe fazer parto natural. E, além de ser mais prático para eles, escolhem a cesariana porque também têm medo. Em uma reportagem sobre mortalidade materna publicada na Época em 2008, o obstetra Nelson Sass, professor da USP, afirmava exatamente isso: “Os estudantes de Medicina das melhores faculdades quase não têm contato com parto natural. É uma deformação das escolas. Como os casos mais complicados são encaminhados aos hospitais universitários e resolvidos com cesáreas, os alunos não treinam o parto natural”. 

Este obstetra, que não foi treinado para o mais fácil e mais natural, vai convencer aquela gestante que, no caso dela, uma cesariana é a melhor opção. Quando uma mulher está com um filho na barriga e um médico diz que é necessário cortá-la para que ele saia, dificilmente ela vai desafiar a autoridade do médico e contestá-lo. Se o médico diz que é mais seguro, como ela vai discutir e correr o risco de comprometer a vida do seu filho? Nesses casos, mesmo mães que desejaram e se prepararam para um parto natural recuam diante da autoridade daquele que sabe. Mas, às vezes, aquele que sabe só tem medo. Ou, pior, tem um compromisso social em seguida ou apenas quer ganhar mais. 

Quando uma mulher engravida e a barriga começa a crescer, dá medo, às vezes até pânico, saber que aquele bebê que está dentro dela vai ter de sair. E é ela quem vai ajudá-lo nisso. E que esse processo inclui dor. É natural ter medo. Isso não significa que essa mulher não possa lidar com esse medo e com todas as fantasias a respeito desse momento e, mesmo assim, viver o que tem para viver. A maior fantasia – e a que mais atrapalha todas as mulheres – é justamente a ideia de que a maternidade é sagrada e só envolve bons sentimentos. Então, para ser uma boa mãe, supostamente uma mulher teria de achar tudo lindo e elevado. 

Poucas crenças são mais perniciosas para as mulheres – e depois para os seus filhos – do que o mito da maternidade feliz. A escritora francesa Colette Audry disse uma frase genial sobre o que é um filho: “Uma nova pessoa que entrou na sua casa sem vir de fora”. Como não ter medo e sentimentos conflitantes a respeito de algo assim? Engravidar e parir dá medo mesmo. E uma mulher não vai amar menos aquele bebê por sentir pavor, raiva e sentimentos supostamente menos nobres – ou supostamente proibidos. Ao contrário. Ela pode ser uma pessoa pior e uma mãe pior se sufocar esses sentimentos em vez de aceitá-los e lidar com eles. O que também implica lidar com o medo da dor do parto e da responsabilidade de ajudar o filho a nascer. É claro que auxilia bastante encontrar um obstetra responsável que converse com ela sobre seus sentimentos – em vez de abrir a agenda para marcar a cesariana. 

É por medo de viver e porque ninguém as ajuda a lidar com seus piores pesadelos que muitas mulheres preferem não sentir – literalmente – um dos momentos imperdíveis da vida que é o parto de um filho. Acredito que a saída para esse medo não é ser anestesiada e cortada em data previamente marcada. E, principalmente, sem necessidade. Como me disse uma grávida um dia: “Prefiro a cesariana porque aí não tenho de passar por isso. Eu fico ali, sem sentir nada, e de repente meu filho já está do lado de fora”. Essa mulher nunca soube o que perdeu, porque perdeu. 

Hoje há um movimento forte em defesa do parto natural e há crianças nascendo em salas humanizadas de hospitais e mesmo dentro de casa nas grandes cidades, como São Paulo, enquanto lá fora o trânsito para e os carros buzinam. Existem grupos semanais onde as mulheres e também os homens podem falar abertamente sobre todos os medos e trocar experiências sobre parto e amamentação. E poder falar sobre isso e dizer que eventualmente está apavorada faz bem para todo mundo e também para o bebê que vai ter uma mãe que consegue falar de seus sentimentos. E falar do que sentimos e do que não sentimos, por pior que nos pareça sentir o que não queríamos sentir – ou não sentir o que achamos que deveríamos sentir –, nos ajuda a amar melhor. 

Algumas ressalvas, porém. A luta pela volta do parto natural é um bom combate. Mas é preciso não cair no outro extremo e virar xiita, já que dogmas não fazem bem à vida. Às vezes percebo com pena esse traço em alguns movimentos que poderiam ser melhores se deixassem a soberba de lado. A cesariana é uma ótima saída nos casos em que é indicada e pode salvar a vida da mãe e do bebê. O problema não é optar por ela quando claramente é a melhor alternativa diante de uma complicação – e sim fazer a cirurgia sem necessidade, um comportamento epidêmico no Brasil. 



Nenhuma mulher é menos mãe ou menos mulher porque não conseguiu ter um parto natural. Assim como nenhuma mulher é menos mulher porque decidiu que não quer ser mãe. Já testemunhei mães orgulhosas de seu parto natural esmagar com sua suposta superioridade uma outra que precisou de cesariana. Este é um comportamento lamentável, quando não ridículo. Nesses casos, além de ter sido submetida a uma cirurgia e estar cheia de dores e pontos, a mulher é punida porque não foi uma superfêmea. Como se ter de fazer uma cesariana fosse uma nova modalidade de fracasso. Superfêmeas, assim como supermães, para o bem da humanidade é melhor que não existam. As mulheres mais bacanas e as que possivelmente serão melhores mães são as que assumem seus medos e não punem o medo das outras. E compreendem que na vida, assim como no parto, a gente tenta fazer o melhor possível. E o melhor possível tem de ser o suficiente.


Para nos ajudar a pensar sobre tudo isso, entrevistei uma amiga que teve seu primeiro filho há uns poucos meses, perto dos 40 anos. Eu a escolhi porque ela desejou muito um parto natural. E se preparou muito para o nascimento do seu filho. E conseguiu o seu parto. Mas, para isso, passou por um tremendo estresse desnecessário em seu embate com a cultura predominante da cesariana e o medo de que os profissionais escolhessem por ela ao longo do trabalho de parto.



Quando fui visitá-la no hospital, no dia seguinte ao nascimento do bebê, ela tinha necessidade de contar sobre o pavor vivido não por causa das dores do parto, mas pelo medo de que roubassem dela esse momento. Seu bebê era saudável, ela ajudava a dar nele o primeiro banho e amamentava-o sem nenhum incômodo. Mas o embate com a equipe de saúde a tinha marcado. E teria sido melhor se ela tivesse a certeza de que sua decisão seria respeitada – e uma cesariana só seria feita se realmente houvesse necessidade.



Há cerca de um ano ela deu outra entrevista para esta coluna, sobre seu desejo e suas dificuldades de engravidar, e os mitos de fertilidade que atrapalham a vida das mulheres. Agora, ela nos conta o capítulo seguinte. A experiência de cada mulher é única. Esta é a da minha amiga. Nem certa nem errada, nem melhor nem pior, apenas a dela. 
ÉPOCA – Você queria muito ter parto natural. Por quê? Me parecia uma experiência mais completa do que uma cesariana, mais natural e menos passiva. Queria fazer força, ajudar meu filho a vir ao mundo. Não queria alguém tirando ele com um bisturi sem que eu visse, por trás de uma cortininha hospitalar, em 10, 15 minutos. A cena tinha de ser maior, mais demorada e curtida. Me via puxando/empurrando meu filho pra vida. A gente tomava fôlego de vez em quando e ele continuava a sair. Algo pra se ir absorvendo aos poucos. Ao longo da gravidez, também fui construindo em mim a ideia de que um parto normal seria algo mais meu, sobre o qual eu teria mais controle do que uma cirurgia. Eu faria o parto – não o médico.

ÉPOCA – - Este desejo, que é natural, afinal é assim que as crianças nascem ou deveriam nascer quando não há nenhuma complicação, acabou sendo difícil de botar em prática, porque toda a cultura ao redor empurrava você para uma cesariana. E isso deu a você uma carga extra de tensão. Como foi? - Eu tive de fazer uma verdadeira maratona para conseguir meu parto. Sabia que as cesarianas eram regra, mas não que era tanto assim. Os médicos te dizem: "Vamos tentar um parto normal", como se fosse o mais difícil, como se exigisse condições. Ora, o "normal" não é ser normal e a cirurgia só acontecer se algo der errado? O fato é que eu tive de convencer, barganhar, ameaçar trocar de médico para conseguir que fosse normal. Percebi que precisaria me informar horrores, me apropriar do processo, para que quando chegasse o momento ninguém pudesse me enrolar com desculpas como as que eu ouvia de amigas justificando cesáreas. E nesta viagem eu aprendi muitas coisas sobre parto. Tantas que teria sido capaz de fazer o meu sozinha. Descobri que bastava amparar meu filho na saída e secá-lo. Não existe nenhum procedimento imprescindível nem durante o parto, nem no nascimento - quando tudo está bem, é claro. Não deixa de ser um absurdo ter de descobrir como funciona algo tão ancestral e natural como um parto. Este processo parece que foi transformado em um mistério pela medicina moderna – um mistério até para as mulheres.

ÉPOCA – - Por que você acha que a medicina tornou o parto um mistério? E por que você acha que as mulheres preferem cesarianas? Do que elas têm tanto medo, afinal? Primeiro, por falta de informação. Os médicos dão pouca informação. Chegam a perguntar o que a mulher prefere, em vez de irem direto para o normal e partirem para a cesárea apenas quando necessário. Já ouvi de um médico que cesariana era mais “prático”. O ponto de partida é que já está errado. Se os médicos não esclarecem, as possibilidades de parto normal já ficam reduzidas. Por exemplo, o parto normal dói, mas tem a opção da anestesia no momento em que a paciente quiser, embora o ideal seja mais para o final. Acho que se as mulheres conhecessem melhor o processo, optariam menos por cesarianas. Há vários mitos envolvidos. Acho que algumas mulheres consideram o parto normal algo pouco civilizado, pouco moderno. Muitas têm medo de ficar com a vagina alargada depois que passar um bebê. Tem também a questão da falsa praticidade, de poder marcar o parto. Digo falsa porque não é nada prático ficar com pontos na barriga de uma cirurgia considerada de porte, fora o risco de ter um bebê nascido antes do tempo, antes de ficar pronto. Há mulheres que querem acabar logo com o processo do nascimento, como se ele não pudesse ser demorado e maravilhoso, sentido, como se esta demora não tivesse também as suas delícias. É como sexo: você sua, se esforça, quanto mais demora, melhor. Não combina ser asséptico, rápido, cirúrgico. O parto também não. Mas acho que o que mais pega é o medo da dor. Nosso mundo tem medo da dor. Mesmo a inevitável, a necessária, a que ajuda a trazer um filho pra vida. A dor de parto não é como outras dores. Não é como uma dor de ouvido, por exemplo. Ela vem aos poucos, para que a mulher se recupere nos intervalos. É forte, mas é uma dor de vida, não de morte. Vai trazer uma coisa boa. Isso te ajuda a suportar. Se não, tem a possibilidade de analgesia. Prefiro dizer que não são dores de parto, mas contrações, movimentos.

ÉPOCA – - O que você aprendeu em sua busca de conhecimento, quase se armando para que não roubassem de você um dos grandes momentos da sua vida? No fim, aprendi que havia vários tipos de parto normal - natural, normal, induzido, humanizado... E percebi que eu não queria apenas um parto "vaginal". Queria um parto com o mínimo de intervenções, o mais natural possível. Nos últimos anos (ou décadas) foram estabelecidas tantas intervenções como rotina que, na maioria dos partos normais urbanos, de classe média, você toma uma superanestesia e fica inepta pra ajudar seu filho a nascer. Então tem de tomar hormônio pra estimular as contrações reduzidas pela anestesia. Na hora H alguém empurra sua barriga com uma manobra horripilante e desnecessária para que o bebê saia. E, no fim, quase que obrigatoriamente, cortam a entrada da sua vagina para ajudar o bebê a sair, mesmo que não precise. Eu não queria nada disso. Queria um parto meu, comandado pelo poder de dar à luz que a natureza me deu, apenas assistido pelos profissionais de saúde.

ÉPOCA – Em sua incursão pelo mundo da militância do parto natural, você participou de grupos e ouviu histórias de todo tipo. Quais foram essas narrativas e como elas ajudaram a construir a sua? Eu tinha guardado na memória o relato especial de uma amiga que teve a filha ainda adolescente no hospital, mas sem anestesia, sentindo as dores do parto. Era minha história inspiradora de nascimento. Descobri na internet um grupo para grávidas, o Gama (Grupo de Apoio à Maternidade Ativa), para ajudar as mulheres a ter experiências assim. Frequentei esse grupo semanalmente com meu marido. Lá ouvi outros relatos de partos naturais, ou seja, sem anestesia nem intervenções, muitos ocorridos em casa. Quase todo dia tinha uma história incrível de uma mulher que tinha dado à luz deitada em sua própria cama, usando os lençóis guardados no armário, comovendo os vizinhos com o choro de bebê novo que de repente interrompia os gemidos do parto como se estivessem todos num século remoto, muitas vezes escandalizando a família com sua escolha "precária". Não me lembro de um relato exato porque eles se pareciam muito, mas de detalhes misturados de nascimentos em apartamentos apertados no caos de São Paulo. Um casal contou que teve o filho num cômodo sem janela, na parede apenas o quadro pintado por um amigo imitava a paisagem de fora. Que loucura alguém parir sem janela, pensei. Eu adorava esses detalhes curiosos e muito humanos. Teve o marido assustado que se refugiou na cozinha para fazer comida enquanto a mulher se contorcia pra dar à luz no quarto, como se nada de extraordinário estivesse acontecendo na casa enquanto ele cozinhava. Teve a história da mulher que berrou no meio de uma contração para o marido não entregar pra parteira as toalhas de banho brancas, e sim as estampadas, se não estragaria o enxoval dela. Teve o caso de uma que ficou muito brava com o companheiro porque ele ficava contando os intervalos das contrações e isso a deixava nervosa. Ela pedia que ele parasse e ele continuava contando. Teve a que achou que tinha defecado no parto, mas era só a placenta saindo depois do bebê. E teve uma que de fato defecou. Nunca tinha imaginado que coisas assim pudessem acontecer. Além dessas histórias do grupo, fui também buscar histórias mais próximas. Uma amiga contou que teve o bebê quase no saguão do hospital, antes de a médica chegar, porque o marido não acreditou que o trabalho de parto estivesse tão avançado. A filha nasceu enquanto ele estacionava. Essa história me fez pensar que eu deveria conhecer bem os estágios do parto, para o caso de uma emergência. Outra me contou como se sentiu traída ao final de um trabalho de parto normal e tranquilo, quando o anestesista a agulhou pelas costas sem que ela quisesse, apenas para justificar sua ida ao hospital numa antevéspera de ano novo. E de como ela se sentiu dolorida nos dias seguintes por causa da peridural e da traição. Me fez pensar em como era importante eu deixar claro meus desejos e manter em minhas mãos o comando da situação. E também a importância de deixar claro para o meu marido o que eu queria – e não queria. Ouvi também um relato triste da minha irmã, que sempre quis parto normal e acabou levada a uma cesárea que ela acreditava desnecessária. Ela não viu os filhos saírem, não sentiu nada. E quando fui resgatar essa história, senti como isso tinha deixado nela uma ferida aberta. Uma ferida que eu não queria aberta em mim. Fui escutando essas histórias para ver como era, saber o que eu queria, o que eu não queria, e para tentar aceitar o que talvez estivesse além do meu querer.

ÉPOCA – Quando seu filho nasceu, você disse que ficou muito tensa durante o processo porque a todo momento tinha medo de que os médicos pudessem dar uma anestesia, fazer algum procedimento ou mesmo uma cesariana contra a sua vontade. Como foi isso? Ao longo da gravidez, fui decidindo o que eu queria e o que não queria pra mim e para o bebê. Coisas muito importantes, pelas quais eu e meu marido faríamos todo o possível, e outras que nos importaríamos menos se escapassem do planejado. Meu maior terror era passar por uma cesariana. Ainda mais se fosse desnecessária. Não sei em que pedaço de mim isso pegava, mas pegava. Nas últimas semanas, minha obstetra falou: "Querida, se rolar cesariana serão dez anos de terapia pra você, não é?". Eu disse: "Exatamente. Você entendeu o tamanho da coisa".

ÉPOCA – Por que tanto horror à cesariana? Embora exista um abuso de cesarianas no Brasil, boa parte delas desnecessária, há casos em que pode ser a melhor escolha e mesmo fundamental para salvar a vida da mãe e do bebê. Se fosse este o caso, não estaria tudo bem para você? Acho que se fosse o último recurso, tudo bem. Mas eu gostaria de ter certeza de que era realmente necessário e não uma conveniência ou inabilidade do médico, coisa que ficou muito difícil identificar hoje em dia. Acho que eu também mitifiquei o parto normal. Eu nasci de cesárea. E estou aqui, viva, sem traumas. Não tenho problemas com isso. Mas era um desejo meu ter o filho naturalmente. Só aceitaria a cesárea se tivesse muita clareza da necessidade.

ÉPOCA – Então conta como foi seu processo nessa luta com os profissionais de saúde ao longo do trabalho de parto... Meu trabalhou de parto ativo durou 13 horas. Isso é considerado normal, mas as pessoas se assustam. Muitos médicos se assustam, inclusive. Meu pavor, quando eu via o relógio andando depressa demais, era que eles se cansassem e dissessem: "Bom, vai ter de ser cesárea". E me empurrassem uma desculpa qualquer goela abaixo, com o poder da autoridade deles. Eu cheguei ao hospital com contrações fortes e ritmadas, num bom intervalo. Mas a dilatação era frustrantemente pequena ainda. Meu filho estava com a cabeça defletida, ou seja, virada pra cima, mirando o céu, então não descia. E minha vagina tinha uma reborda, uma espécie de dobra que se forma muitas vezes e também dificulta a saída. Eu sabia que nenhuma das duas coisas era motivo para cesárea, mas podiam tentar usá-las para fazer uma. Eu tinha chamado uma doula, uma acompanhante de parto, que na hora me ajudou com exercícios, posições e apoio emocional. Mas, depois de oito horas, acabei pedindo uma analgesia porque não aguentei a dor, estava dobrada, apagando nos intervalos das contrações. Tive medo que isso animasse os médicos a fazer cesárea, afinal, eu já estava anestesiada, ainda que de leve. Chorei muito porque não imaginava que a dor fosse maior do que eu. E chorei de medo. Lá pelas tantas entrou uma obstetra na sala e começou a conversar com minha médica. Ela dizia que o parto que ela fazia na sala ao lado estava demorando muito então ia virar uma cesárea porque ela já estava cansada. Entrei em pânico e comentei com a doula que não queria que todos se cansassem daquele momento meu e quisessem ir embora inventando uma cesárea. Minha médica ouviu e disse: "Temos todo o tempo do mundo para esperar". Era verdade. Ela começou a me pedir pra fazer certas posições, me virava na cama, com muita delicadeza, até que o bebê se acertou e começou a sair. Nessa hora, de novo entrei em pânico, fiquei selvagem porque começaram a montar uma mesa de instrumentos e eu temi de novo uma cesárea. Pra que tudo aquilo? A pediatra, acostumada com partos humanizados, naturais, me disse que era normal, uma prevenção em caso de ocorrer uma emergência. Mas a cada barulhinho de metais mexendo eu gritava, perguntando o que iam fazer. Felizmente, o que fizeram foi apenas esperar meu filho sair, naturalmente, sem cortes, inteiros nós dois.

ÉPOCA – Qual foi o sentimento quando seu filho nasceu? Eu parecia um bicho. Estava meio agressiva, assustada e ao mesmo tempo me sentindo a dona da cena. Queimava tudo quando ele estava saindo. Parecia que as tripas iam sair por baixo, apesar da analgesia, que era leve justamente pra eu sentir. Daí ele saiu, roxinho, com o cordão enrolado no pescoço e na mão, sem nenhum problema. Veja que os cesaristas adoram dizer que isso é motivo pra cortar uma mulher. Alguém que estava perto da vagina esticou os braços me entregando aquele pacotinho. Me escapou um: "O que eu faço com isso?". Mas imediatamente eu soube e puxei ele pra mim, pro meu peito. Veio a pediatra e ajeitou-o pra mamar. E ele mamou. Eu chorava, chorava. Chorava e sorria. Parecia que não existia nada além dali. Que o momento era aquele. Que a vida começava e terminava naquela sala. Que ali dentro estava tudo que me importava. Senti orgulho de mim, do meu filho. Me senti poderosa, cheia de muita coisa boa. Talvez algumas mulheres se assustem com a intensidade de dor e de medo no relato do parto do meu filho e achem que não vale a pena. Primeiro, eu acredito que as coisas importantes não são necessariamente leves e indolores. Nem que as coisas boas só são boas se forem leves, rápidas e indolores. Meu parto foi forte. Em alguns momentos foi tenso e doloroso. Em alguns momentos tive medo. E, mesmo assim, foi uma delícia. Mesmo assim, tive um prazer indescritível. Tudo junto, como a vida é. Não trocaria isso por nada. Poucas vezes me senti tão viva. Poucas vezes estive tão viva. E completa.

ÉPOCA – Como é ser mãe? Fico observando você e percebo que, embora existam as angústias, e elas são muitas nesse início da vida de um filho, você parece estar sempre numa espécie de estado de completude. Volta e meia olha para o seu filho e chora de alegria... Eu estou em estado de graça desde o momento em que meu filho nasceu. Eu tinha um medo, que para algumas pessoas pode parecer idiota, de ter um filho feio e burro. Bem, ele é lindíssimo. Meu bebê nasceu lindíssimo, como eu jamais poderia imaginar que seria. Tem orelhas perfeitas, nariz lindo. Ele é todo bonito. Tudo nele é bom. Senti algo indescritível quando saí da maternidade com ele nos braços, apresentando a rua lá fora, o sol, os carros, o barulho, as pessoas, a vida. Me senti a pessoa mais importante do mundo. Chorei quase todos os dias do primeiro mês de vida dele. De alegria, de plenitude. Chorei de ver que era tudo verdade, que ele estava ali. E ainda choro. A maternidade está além da minha maior expectativa.

ÉPOCA – Me parece, pela minha própria experiência e pela de outras mulheres que escuto por aí, que o afeto e o amor pelo filho não é algo dado, mas construído. De repente, há uma pessoinha nova fora da gente, na casa da gente, exigindo coisas com o seu choro. Mesmo que a gente a carregue por nove meses, fora do nosso corpo é outra história. Me parece que amamos aos poucos, num afeto que vai se construindo e se fortalecendo ao longo dos dias, até se tornar a ligação mais forte e profunda da nossa vida. E não como um amor que vem do além e cai como um raio na hora em que o bebê nasce, como somos ensinadas a acreditar que é o certo. Como foi para você? É interessante porque, embora a maternidade seja atávica, o afeto não é automático, imediato. Eu não senti assim, pelo menos. Fui me apaixonando pelo meu filho. É algo que é construído da rotina com o bebê, que é uma das coisas mais intensas que alguém pode viver. Um dia aparece um serzinho estranho de dentro de você para você cuidar. Invade seu mundo, sua vida, com um cheiro novo, barulhos novos, hábitos novos. Surge um novo prolongamento de você, algo que não existia antes e que precisa de você para existir. No começo é ternura, curiosidade, encantamento. Acho que a natureza faz bebês fofos para a gente se encantar e cuidar deles. Aos poucos vai virando amor, delícia, intimidade. Você ama "aquele" bebê. Eu comecei a ficar mais mãe aos poucos. E acho que vou ser cada vez mais mãe, conforme o tempo passar.

ÉPOCA – - Um de seus conflitos é a aproximação do momento de voltar ao trabalho, depois da licença-maternidade. Por um lado você tem vontade de largar seu emprego e virar mãe em tempo integral. Por outro, tem sonhos de que está trabalhando em grandes projetos. Não é fácil ser mulher, não é? Como você está se virando? Não gosto nem de imaginar a volta ao trabalho. Parece que ele vai precisar de mim e não vou estar. Dizem que quem mais sente a dor dessa primeira separação é a mãe. Eu não consigo imaginar meu filho desamparado. Uma neura de que não cuidarão tão bem dele, de que eu não estarei lá vendo cada sorriso ou respiro. Acho que ainda sinto que ele é um pedaço de mim que ficaria pra trás algumas horas, doendo. Tenho um trabalho flexível, que me permitiria estar com ele em vários intervalos do dia. Ao mesmo tempo, já fiz as contas pra ver quanto tempo eu poderia ficar em casa só acompanhando ele crescer, mudar. Provavelmente, voltarei a trabalhar. Acho que ficaria tensa de não ter segurança financeira e talvez me cansasse, com o tempo, de ficar apenas em casa. Afinal, é uma rotina desgastante. Meu plano ideal seria que me dessem uma licença de um ano ou que meu emprego me liberasse e estivesse lá quando eu voltasse. Pra mim, seria o tempo ideal pra eu me dedicar ao meu filho, curtir cada minutinho, cheirar ele o dia inteiro. É importante trabalhar, mas é melhor ser mãe, ao menos nesse momento. Acho que o modo como as coisas são estruturadas no nosso mundo, no nosso universo brasileiro, não facilita muito a vivência dessas coisas. Poderíamos ter a opção de voltar logo ou não ao trabalho. Eu queria muito ficar mais. Mas dá medo chutar tudo e viver de economias. Eu não gosto de pensar nisso. Me incomoda, estraga meu dia. Meu filho fez parar meu tempo. Mas as coisas fora de nós não pararam. Não sei como resolver.

ÉPOCA – Quais são as alegrias e os conflitos desse momento muito particular que você está vivendo? As alegrias são todas. O sorriso dele quando acorda, as dobrinhas, o cocô sem cheiro. Os gemidos, o choro, o beicinho, a respiração, o espirro. Mas a maior felicidade é ele mamar no meu peito. Ele se alimentar de mim. Isso é uma loucura. E eu me alimento de olhar ele mamando, toda torta, querendo chorar de alegria. A mãozinha no meu peito. Algo indescritível. Não tenho muito tempo pra mim, o que me angustia, mas só um pouquinho. Me sinto bonita, forte, poderosa, e tenho conseguido administrar as dificuldades porque tenho uma boa rede de apoio – marido superparticipativo, empregada, família, grana. Talvez eu não seja a melhor referência, porque a maternidade nem sempre é fácil. E pra mim está sendo uma delícia. Meu maior conflito é querer às vezes ficar só eu, meu filho e o pai dele juntos, feito bichos, num ninho, nos lambendo. Mas o planeta não é vazio como eu queria que fosse agora. O que também tem um lado bom: muita gente pra eu mostrar a coisa mais linda que eu já vi.

ÉPOCA – Hoje, olhando para trás, o que o parto natural deu a você? O meu não foi 100% natural porque eu tomei analgesia. Meu parto normal me deu a maior lembrança da minha vida. Uma longa cena que me mudou completamente. Me sinto uma mulher completa agora. Me sinto uma mulher feita. Acho que, por ter sido um parto normal, me sinto mais do que se fosse de outra forma.

ÉPOCA – Você tem medo do futuro? De seu filho estar aqui, de ter de educá-lo com um mundo inóspito lá fora... Tenho todos os medos, os mais absurdos. De ele sofrer, de não ser feliz. Medos que eu sempre tive da vida, como todo mundo. Mas meus olhos estão tão cheios da visão linda do meu filho e meu coração transborda de uma alegria tão grande que não cabe mais nada. Essas visões ruins de futuro se apagam rapidamente. Uma ternura louca espanta os medos, tão logo eles chegam. E me enche de esperança a idéia de criar um ser humano lindo e feliz. De apresentá-lo ao mundo e o mundo a ele.

ÉPOCA – O que é ser mãe, afinal? Para mim, ser mãe é me sentir completamente mulher, fêmea, em todas as possibilidades. Já li que não é a maternidade que te faz uma mulher. Mas há uma dimensão que a gente só conhece sendo mãe. É mais para sentir do que explicar. Me sinto maior do que eu era antes. Bem maior.


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Anestesia ou dor no parto normal?

As mulheres que serão futuras mamães já ficam trêmulas só de pensar em sentir dor na hora do parto e logo dizem ao médico a preferência pela anestesia. Realmente em alguns casos a anestesia é necessária, mas não em todos. A dor normalmente faz parte do processo do parto, infelizmente.

Mas a dor do parto é muito cultural e é diferente de mulher para mulher. Hoje é muito difundido principalmente pela televisão que a dor do parto é insuportável e que não existiria dor pior. E é importante ressaltar que não é bem assim.

Uma mulher que entende todo o processo das contrações, do parto, tirando todas as dúvidas com o seu médico, que é bem atendida no pré-parto, que está junto de pessoas com quem confia na hora da dor e que consegue relaxar e pensar nos benefícios dessa dor fica mais segura e mais calma, diminuindo a dor.

Além disso, a dor das contrações é muito benéfica para mãe e bebê, pois regula o momento do parto. A dor faz com que o organismo da mulher produza os hormônios chamados endorfinas, que diminuem a dor e relaxam a mulher, deixando-a menos cansada e mais resistente para enfrentar todo o processo do parto. Quanto mais evolui o trabalho de parto, mais endorfina é lançada no corpo da mulher.

A dor mostra para a mulher qual a melhor posição a ficar, o caminho a ser percorrido, qual o melhor momento de fazer força, facilitando todo o processo fisiológico da chegada do bebê.

Claro que em muitos casos a anestesia é bem vinda e necessária, mas o uso dela aumentou significativamente nos últimos tempos mesmo com alternativas menos invasivas para o alívio da dor.

Denish Walsh, obstetra e professor da Universidade de Nottingham, Inglaterra, em artigo publicado na revista "Evidence Based Midwifery", relata que alguns estudos já mostraram que a anestesia epidural aumenta a probabilidade de ter que induzir as contrações com tratamentos hormonais, e o uso de fórceps é mais frequente para ajudar a saída do bebê.
Portanto, futuras mamães, pensem no que é melhor para você e seu bebê. Tire suas dúvidas sobre a dor do parto e pratique exercícios que a ajudem a relaxar e melhorar a respiração, fatores que ajudam a diminuir a dor na hora do parto.

Dicas
O apoio de pessoas de quem confia ajuda muito principalmente nas pessoas que estarão com você na sala de parto. Procure conhecer a equipe que estará na hora do seu parto.
Técnicas de respiração ajudam na melhor oxigenação durante as contrações e relaxamento nos intervalos. Procure aprendê-las.
Se mesmo assim o medo da dor é maior que tudo isso, converse com seu médico e escolha a melhor opção para você.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Amamentar deixa os seios flácidos???


Futuras mamães vaidosas que querem amamentar podem relaxar: ao contrário do que muita gente imagina, amamentar não causa, nem aumenta, a flacidez nos seios.

Um estudo divulgado em novembro do ano passado concluiu que amamentar não tem efeito sobre a flacidez ou diminuição dos seios. O estudo foi elaborado pelo cirurgião plástico da Universidade do Kentucky, Dr. Brain Rinker. Ele ficou intrigado para ver se tinha sentido o pedido da maioria das mulheres que o procurava para realizar implantes no seio: que ele consertasse os estragos causados pela amamentação. O Dr. Rinker concluiu que não é o fato de amamentar e sim o de engravidar, engordar, fumar e envelhecer que causam os estragos que ele procura consertar.

Amamentar só faz bem para a saúde e beleza da mamãe e do bebê!
Então porque boa parte das mulheres discorda da ciência e bate o pé de que amamentar derruba sim os seios?

O que ocorre é que as mamas aumentam muito de volume durante a gravidez, já que as glândulas que irão produzir o leite se desenvolvem (independente da vontade da mulher de amamentar ou não). Então a pele tem que esticar para comportar esse aumento, ela pode ficar flácida quando voltar ao normal. Dessa maneira a gravidez tem sim um papel na flacidez dos seios, mas o tempo de amamentação não. Amamentar por 2 anos (como recomenda a Sociedade Brasileira de Pediatria) não vai deixar a mulher com os seios mais flácidos do que aquela que amamenta por um mês.

O que estica muito e depois volta ao normal gera flacidez, como ocorre com a barriga na gravidez ocorre nos seios, o processo é parecido. Não amamentamos pela barriga e mesmo assim elas ficam flácidas e cada vez mais, após cada gravidez. Aliás o estudo concluiu que o número de gestações tem sim efeito na flacidez dos seios.

Tem mulheres que relatam por exemplo que amamentavam mais em um seio do que no outro e esse "caiu mais". Porque isso acontece então? Porque no seio que produziu mais leite foi melhor preparado pelo corpo para a amamentação, suas glândulas mamárias se desenvolveram mais e é por isso, e não porque o bebê sugou mais ali, que esse seio tende a cair mais do que o vizinho. O importante é isso, essa preparação para a amamentação que ocorre durante a gravidez, e que é fisiológica e incontrolável, que altera os seios e não a amamentação em si.

Outros fatores que comprovadamente influem na flacidez dos seios são idade, genética, tamanho das mamas, fumo e falta de exercício físico.

Além de não derrubar os seios amamentar tem um fator positivo na beleza da mulher: ajuda a recuperar o peso conquistado durante a gestação. O estudo abaixo sobre benefícios da amamentação para a saúde da mulher esclarece que amamentar exclusivamente o bebê nos primeiros 6 meses de vida faz com que a mulher perca uma média de 500g por semana. O estudo mostra ainda que além de ajudar na recuperação do peso, a mulher que amamenta tem menos risco de desenvolver câncer de mama e de ovário mais tarde e menor risco de sofrer fraturas no quadril por osteoporose quando chegar na menopausa.


Matéria publicada pela BBC

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Lactente Chiador

Meu bebê está chiando, e agora? Ele tem asma? Bronquite? Estas são perguntas frequentes feita pelos pais frente ao primeiro episódio de sibilância (chiado) do seu filho. Mas o que realmente acontece?





Crianças menores de 2 a 3 anos de idade que apresentam quadro de sibilância contínua há pelo menos 1 mês ou no mínimo, 3 episódios de chiado em um período de 2 meses, são denominados Lactentes Chiadores. Nesta idade, o chiado, na maioria das vezes é transitório e não apresenta risco maior para o desenvolvimento de asma no futuro. Metade das crianças que sibilam no início da vida deixam de fazê-lo aos 6 anos de idade sendo considerados sibilantes transitórios. Nessas crianças, o chiado tem relação com a redução do calibre das vias aéreas, infecções virais, tabagismo ( fumantes passivos) e fatores genéticos, principalmente.



A prevalência, as características clínicas e os fatores associados à sibilância ainda não estão bem estabelecidos nas crianças em idade pré-escolar. Sabe-se no entanto que alguns fatores como filhos de mães asmáticas e também mães tabagistas durante a gestação, apresentam risco maior de desenvolver sibilância e asma. Estudos mostram também risco elevado de sibilância nos primeiros anos de vida nas crianças do sexo masculino, crianças que frequentam creche/escolinha, que são expostas a fumaça de cigarro como já relatado anteriormente, e crianças expostas à alérgenos no ar ambiente.



É necessário uma avaliação inicial com boa anamnese (entrevista feita pelo médico para pesquisar possíveis fatores que podem ter levado aos sintomas apresentados) para excluir as principais causas de sibilância em lactentes - refluxo gastro-esofágico, infecções virais, asma, aspiração de corpo estranho, fumantes passivos, imunodeficiências, sequelas neonatais, outras doenças pulmonares como tuberculose e fibrose cística, parasitoses e mal formações do trato respiratório.



O diagnóstico de asma nesta idade é muito difícil e se faz baseado na presença de alguns critérios: dermatite atópica, pai ou mãe com asma (são critérios maiores) e sibilância na ausência de resfriado, rinite alérgica e eosinofilia (são critérios menores). A presença de um critério maior ou dois menores auxiliam no diagnóstico.



O tratamento da sibilância em lactentes é ainda muito discutido e controverso mas basea-se principalmente na redução da inflamação das vias aéreas, prevenção das exacerbações (tosse, catarro, falta de ar), melhora da qualidade de vida e utilização de medicações sem ou com mínimo de efeito colaterais. Cada caso deverá ser avaliado individualmente e é fundamental a orientação da higiene do ambiente físico. Deve-se deixar a casa bem ventilada e passar pano úmido diariamente, retirar tapetes e carpetes, evitar animais dentro de casa, retirar bichos de pelúcia do ambiente, evitar odores fortes e afastar a criança da inalação de fumaça de cigarro.