quarta-feira, 18 de março de 2015

QUANDO O INESPERADO ACONTECE - Olhos e coração abertos


Fiz um plano de parto todo bonitinho e, assim como o partograma, ele saiu todo da curva. E é justamente isso que o torna bacana: tudo na minha vida nunca foi no padrão mesmo, acredito que com meu filho não seria diferente.
Tudo começou na terça, dia 10/02. Vi que o tampão havia saído. Estava com 40 semanas e 2 dias de gestação e aguardei então o início do trabalho de parto espontâneo. Na quarta, quinta e sexta o tampão continuou saindo, e ainda na sexta, 13, comecei a ter contrações. Começaram às 5 da manhã. Pensei: hoje vai! E foram ficando fortes e de 3 em 3 minutos. Fui para a maternidade.


Chegando lá, umas 17 horas, as contrações haviam parado e fui submetida a exames de praxe. Algumas enfermeiras disseram que eu deveria ser internada para fazer a indução naquele momento. Não havia levado nada para o hospital, estava despreparada e, se meu marido saísse para buscar qualquer coisa em casa, eu ficaria sozinha, porque moramos bem longe do hospital. De verdade? Arreguei. Saí de lá, não quis ser internada e voltei para casa.


No sábado não senti nada. No domingo, as contrações voltaram no mesmo esquema de sexta. Fui para a casa da Eliana, minha doula, que fez alguns exercícios comigo para ajudar na dilatação. No último exame de toque que havia feito na sexta já estava com 4 cm. Era um indicativo de que estava correndo tudo fisiologicamente bem. Pausa: outro dia comentei que para parir você não precisa de uma vagina, mas sim de joelhos íntegros. Você agacha, anda de pato, abaixa para pegar algo, já que a barriga não te deixa dobrar no meio. E haja joelhos para executar toda a série proposta pela Eliana! Bom, mas aí lá pelas 13 horas, as contrações simplesmente pararam. Voltei para casa mais uma vez.


Na segunda, dia 16, de novo não senti nada. Nada mesmo. Nem mesmo movimentos fetais. Aí fiquei preocupada. Desta vez me muni de coragem e fui de novo para a maternidade, preparada já para ficar. Passamos na casa da Eliana para buscá-la e seguimos para o Sofia Feldman.


Fui internada às 17 horas. Parece que a mudança de ambiente me fez bem. Ao entrar na sala do pré-parto, comecei a sentir contrações novamente e os movimentos do bebê. Marcaram meu nome no quadrinho e começaram a me monitorar. Meu marido, Paulo César, revezava com a doula, para que eles pudessem comer e descansar. Quem passou aquela noite comigo no hospital foi ele.


Até às 10 horas da terça senti contrações. Inclusive dormindo tive. Sonhava com elas. Porém, quando acordei de verdade, elas simplesmente pararam. Aí pedi a primeira intervenção: descolamento de membranas. A enfermeira fez tão direitinho e foi tão cuidadosa que não senti a dor absurda que imaginei que ia sentir. Suspeitei estar com a bolsa rota, pois o tampão que havia começado a sair na semana anterior agora vinha com uns gruminhos verde-escuro, que percebi ao sentar na cama. Mecônio. Ah, meu Deus...


Pedia a todo instante uns pensos, esses pedacinhos de pano para colocar na calcinha, enquanto sentia as contrações. Todo o momento que a doula estava comigo ela me lembrava de fazer agachamento para ajudar na dilatação. Minha bexiga devia estar com uma capacidade de no máximo uns 40 mL, porque além de fazer xixi toda vez que agachava, até doía pelo peso do bebê. Cheguei a dizer que estava a fim de fazer um litro de xixi, que não aguentava mais ficar fazendo de pouquinho em pouquinho. Evoluí para 5-6 cm até as 13 horas.


Nesse momento, foi feita a segunda intervenção: ligaram a ocitocina em mim. Meu colo já estava favorável, então era só um empurrãozinho mesmo. As contrações estavam suportáveis. Eram nível piriri. Só que nem bem se passaram dez minutos de ocitocina, tive uma cólica de rim brava. Pedi socorro pelo amor de Deus. Acharam que eu estava confundindo contrações uterinas refletidas por todo o abdome com o meu rim. A Eliana mesmo me disse que eu tenho uma consciência corporal muito boa, que sei dizer com exatidão o que dói e em qual escala. Pois bem, me examinaram e ligaram o Buscopan no soro também. O alívio foi quase imediato: realmente tive uma cólica de rim, e sim, ela dói mais que as contrações uterinas.


Lá pelas 15 horas resolveram ligar um aparelho de cardiotocografia em mim. Contavam que a minha idade gestacional era de 42 semanas e 2 dias (mas para mim ainda continuam sendo 41+2, e não tem quem me demova disto!), e que por isso tal monitoramento era necessário. A essas alturas, meu coração de mãe já começou a pensar que o desfecho não poderia ser aquele que sonhei. Para começar, tinha pensado em parir na água, num dia de sol, com a luz vindo do meu lado esquerdo. Só pela idade gestacional já não pude ir para a banheira, aí o negócio desandou, embora tivesse acesso a tudo o que precisaria, mas usei mesmo só o chuveiro.


Às 17 horas me levaram para a sala de parto. A luz vinha do meu lado esquerdo, como imaginei. Desta vez o Paulo César e a Eliana puderam ficar junto comigo ao mesmo tempo. Ligaram de novo a cardiotoco em mim. Batimentos cardíacos do feto não eram tranquilizadores. As contrações estavam mais fortes, vindo de 3 em 3 minutos, nível piriri mais agressivo. Romperam minha bolsa e saiu pouquíssimo líquido, oligrodrâmnio já indicado no ultrassom que havia feito com 39 semanas. E nada de o trabalho de parto engrenar. Estava deitada sobre meu lado esquerdo e a posição me incomodando demais.
Às 19 horas as contrações atingiram um nível de dor insuportável. A cólica de rim ficou bem para trás. Parecia que tinham dois ganchos, um de cada lado do osso da bacia, que eram tracionados, me rasgando no meio. A dor começava no púbis e se espalhava pelas laterais do osso. Ao mesmo tempo, sentia o bebê batendo no púbis e voltando. Pedi analgesia.



Antes de ir para o biombo da analgesia, conversei com o Dr. Roberto, que estava de plantão naquela noite, e já mandei a real: como escrevi no plano de parto que estava disposta a encarar uma cesárea se fosse necessária, que ele preparasse tudo caso após o efeito da analgesia passar eu ainda não tivesse parido. Muito solícito, esclareceu todas as dúvidas, fez um toque, e a posição do bebê sempre dava -1 em relação à espinha isquiática, e saiu. Eu queria um parto normal, mas não a qualquer custo. E não me perdoaria se acontecesse qualquer coisa com meu bebê.


Fui para o biombo e cheguei lá vomitando, de tanta dor. Minha pressão, que até então estava nos 11 x 8, foi a 15 x 10 (altaaa...!), que vi no monitor. Alguém foi lá limpar a bagunça que eu havia feito e logo a Dra. Rafaela resolveu meu problema. Alívio imediato, voltei para a sala de parto. Desta vez tudo escuro, as luzes apagadas, só a do banheiro, que estava de frente pra mim, acesa. Fiquei na banqueta de parto com a cardiotoco ligada outra vez. Pedi para baixarem o volume, porque o barulho estava me estressando. Fui monitorando as contrações e fazia força toda vez que o número verdinho ia lá nas tampas.


Sentia a vagina arder. Colocava a mão embaixo para ver se sentia a cabeça do meu filho descendo. Nada. A enfermeira que me acompanhava, Graziele, até me perguntou o que eu estava sentindo, para tentar me ajudar. Iluminava o ambiente com a tela do celular – confesso que essa iluminação estava até agradável, porque tudo escuro também era muito estranho. Colocaram oxigênio em mim. Ela fez toque, e a posição do bebê continuava sempre em -1 em relação à espinha isquiática. A dilatação já estava em 7-8 cm. O índice de Bishop para mim dava 9 no momento da admissão, o que contava como bastante favorável à indução, nem lembrei de perguntar nesse momento, que deveria estar ainda bem mais alto. Fiei-me nisso.


Quase 22 horas, o efeito da analgesia passou. Já estava totalmente dilatada. Voltei a sentir as contrações e pedi pelo amor de Deus para desligarem aquela ocitocina de mim e saí arrancando as correias da cardiotoco. Já lá no fundo eu sabia que seria cesárea. O Dr. Roberto entrou na sala, fez toque novamente e, adivinha! Não saímos do -1! Ele me informou que se tratava de uma parada de progressão e que era indicação real e necessária de cirurgia. Lembro de ter falado: “salva a gente então, Roberto!”. Ele foi muito bacana e explicou que tentaram ao máximo seguir tudo o que estava no meu plano de parto, mas tem coisas que não estão na nossa mão. Como já havia voltado a sentir as contrações, ele explicou mais algumas coisas que não me lembro bem, mas sei que aceitei a “derrocada” de bom grado.


Baixei a cabeça na cama, rezei um Pai-Nosso e uma Ave-Maria e pedi a Deus que nos protegesse. Contemplava o céu limpo, estrelado, mas eu não me perguntava se eu merecia aquilo. Logo eu, defensora do parto normal! Mas não, apenas aceitava porque sabia que seria assim, não me pergunte como, não me pergunte por quê. Morria de dor, mas por dentro eu estava em paz com aquilo.


Fui para o chuveiro e a Eliana chamou a minha mãe, que estava desde as 18 horas lá fora. Abracei e beijei ela, chorei de cansaço. Reclamei que não consegui parir, mas o Paulo César me abraçou e falou que eu fui guerreira demais, que ele não aguentaria duas horas o que eu aguentei dois dias. Que eu fui brava, acreditando na causa que eu defendia. Isso me deu ainda mais forças para encarar a cirurgia.


Ainda fiquei uma hora sentindo contrações sem a ocitocina. Eram ainda fortes, mas não no nível das de 19 horas. Vocalizava a cada contração e conseguia desenhar com a voz a onda de dor que sentia. Não gritei, eram gemidos altos. O Dr. Roberto me falou que iam preparar o bloco cirúrgico e que logo voltaria para me buscar (isso foi o que ele me contou. Porque para o Paulo César ele falou a verdade: disse que me deixaria mais uma hora sem a analgesia para ver se eu poderia progredir no trabalho de parto).


Antes de entrar no bloco cirúrgico, me falaram que eu tinha que escolher apenas uma pessoa para entrar comigo. Como gostaria que fosse o marido, me despedi e dispensei a Eliana naquele momento, para que ela também fosse para casa descansar, depois de tanta massagem e tanta paciência dispensada a mim durante um dia inteiro. Toda mulher merece uma doula.  Sério.


Na mesa de cirurgia, recebi ainda um último toque do Dr. Roberto, ao qual classificamos de “desencargo de consciência”. Adivinha? -1!!! Dra. Rafaela voltou à cena e fui devidamente anestesiada. Ali começava o primeiro dia do resto da minha vida. Morria a Glaucia e nascia a mãe.


Às 23h37 veio ao mundo o Francisco, de olhos bem abertos, com 3,600 kg e 53 cm. Chorou só porque era protocolo. Deu uns gritinhos e ficou foi prestando atenção à sua volta. Não sei se vocês acreditam nisso, mas quando o vi de olhão aberto, pensei logo: “é uma alma velha”. E comentei na mesma hora: “aí, Pecê, ele é a sua cara!”, no que toda a equipe olhou para ele e concordou: “é mesmo, pai, parece muito com você!”. Ele teve Apgar 8 no primeiro e 9 no quinto minuto. Trouxeram-no para mim, para eu cheirá-lo e conhecê-lo. Eu não estava de mãos amarradas, apenas o cansaço físico me impedia um contato melhor com ele. Cheirinho bom de neném, mesmo com mecônio!


O Pecê, agora papai, estava extremamente cansado e passando mal dentro do bloco. Falaram com ele que ele podia pegar o neném. Ele falou que estava com medo de quebrar o bebê! Coitado, entendo o cansaço, a ansiedade e a dor física que ele estava sentindo só de nos ver naquela situação. Mas ele foi lá e pegou, tirou foto com o meu e com o celular dele. Tirou selfie. Avisou todo mundo. Já era um papai feliz.


Avisaram-me que o líquido amniótico estava fétido. Aspiraram os pulmões do Francisco. Trouxeram a placenta para eu conhecer, do jeitinho que eu pedi no plano de parto! Comentei que o corpo humano era lindo, e a pediatra, Dra. Kamille, concordou bem comigo. Enquanto era suturada, adormeci. Dr. Roberto foi me acordar ao final, achando que eu estava passando mal, mas era só cansaço mesmo, até porque já era a hora natural de eu dormir. Nesse momento, a equipe quase inteira saiu do bloco correndo para acompanhar um parto de gêmeos de 24 semanas e ali quem ficou terminou os procedimentos de retirada da sonda vesical, me colocar na maca, vestir o Francisco e nos levar para a enfermaria.


Dispensei o marido para ele ir para casa dormir e minha mãe ficou comigo naquela noite. No dia seguinte, quase morri para levantar da cama e tomar um banho. Estava sangrando muito ainda. Não consegui dar o primeiro banho no Francisco, no que fomos auxiliadas por uma enfermeira muito simpática e solícita.


Tive dificuldade de amamentação. Nas primeiras 24 horas, nada de leite. Chorei de desespero achando que não ia conseguir alimentar o meu filho além de tudo o que já havíamos passado. Fui obrigada a ceder ao complemento, até que fui à sala de ordenha do hospital e me ensinaram a fazer a estimulação correta.


Bem, achei que ia embora para casa na sexta pela manhã, quando a Dra. Kamille passou na enfermaria e anunciou que tinha acabado de internar meu bebê, pois a PCR dele tinha dado alterada. Foram mais 11 longos dias no hospital: desta vez eu como acompanhante do Francisco, tendo que levantar, sentar, sair da cama, trocá-lo, tudo com a barriga ainda doendo muito. Fora a quantidade de gás que fica presa dentro de você. Dá até choque.


Para piorar, embora estivesse dando leite loucamente e muito feliz por poder amamentar, o teste da linguinha dele deu alterado. Ele mamava muito, se cansava rápido e não se fartava. O pouco xixi denunciava isso. A avaliação da Fga. Camila, minha contemporânea de faculdade inclusive, foi fundamental para o sucesso do aleitamento.  Aprendi que a amamentação deve ser prazerosa para ambos!


Foi constatado que ele tinha o frênulo da língua um pouquinho maior, a chamada "língua presa". Alguns casos têm indicação cirúrgica, como ele, que passou pela frenotomia, outros necessitam apenas de acompanhamento. Esse teste pode evitar desmame precoce - ele estava mastigando o meu mamilo, que ardia. São essas coisinhas, “inhas”, tá?, além da pega errada, que fazem mães morrendo de dor e mamilos rachados enquanto amamentam. Está errado. Os meus não racharam e não deram problema até hoje. Sobre o procedimento, é praticamente indolor e quase não sangra. O pediatra Dr. Felipe fez na enfermaria mesmo. E a criança já mama assim que o faz.


A recuperação da cirurgia tem sido pesada. Na semana da cesárea mesmo, não havia conseguido ir ao banheiro ainda. Na tentativa, vi estrelas, doía mais que a própria cirurgia, pois além de tudo, ardia. Deram-me óleo mineral, anti-inflamatório, dimeticona e uma injeção de cetoprofeno que, juro, vi não só estrela, mas a família inteira pela greta. É mais dolorida que a contração e a tentativa de ir ao banheiro, porque não só dói, como arde e queima. Mas consegui ir ao banheiro e há até uns 4 dias ainda estava dependendo do óleo mineral. Anestesia é punk, mano.


Voltei para casa e alguns pontos abriram. Fui ao hospital para retirá-los e voltei com uma receita de antibiótico e anti-inflamatório (de novo). Acabo de tomá-los amanhã. A cicatriz já parou de arder e já estou um pouco mais independente. Francisco faz hoje um mês. E permaneço com uma sensação inenarrável de missão cumprida, porque entrei de coração aberto naquele bloco cirúrgico. Minha cesárea foi necessária para que nossas vidas fossem salvas, e é isso o que eu digo o tempo todo: não sou contra a cirurgia, sou contra a banalização de um recurso que só deve ser usado em último caso. Não se acanhem de precisar de uma cesárea, mas sejam leoas se não precisarem. Não é fácil passar por uma cirurgia desse porte – eu já havia feito uma cirurgia abdominal anos atrás e já sabia que não seria nada fácil a recuperação.
Das mudanças no meu corpo, continuo ainda com a chamada “barriguinha de mamãe”. A pele ainda está escura e flácida na região do umbigo. Também percebi que houve mudança no ângulo da vagina, o que notei pelo novo posicionamento do absorvente na calcinha. Aliás, minhas calcinhas estão quase todas manchadas de sangue. Pensei em jogá-las fora, porém ontem, observando-as no varal, já não as vejo mais com nojo, mas como verdadeiros troféus de guerra.

NOTAS DO BLOG:
Esse relato foi escrito pela mãe do bebê e cedido ao blog. O original pode ser acessado aqui: (http://mingau-gaaki.blogspot.com.br/2015/03/olhos-e-coracao-abertos_17.html);
A reprodução dele e das imagens devem ser feitas mediante autorização por escrito;
Este, como todos os outros relatos da série QUANDO O INESPERADO ACONTECE, foram publicados com o intuito de estimular reflexões para situações incomuns mas possíveis durante a gestação, parto e amamentação;
Comentários são bem vindos. Mas caso tenham conteúdo ofensivo, preconceituoso ou sejam desrespeitosos, serão excluídos;

Você também quer dividir a sua história*? Mande-a para o e-mail: vanessadoulamg@yahoo.com.br
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sexta-feira, 13 de março de 2015

QUANDO O INESPERADO ACONTECE - Relato de VBA2C com óbito neonatal precoce

Vou fazer um relato bem resumido das minhas cesárias, para vocês entenderem o pq eu tanto queria um parto normal, não era capricho era a lógica.
Eu tinha 16 anos quando fui para a cirurgia retirar meu filho da barriga, estava de 38 +6. Cheguei no hospital e meu médico foi me ver, disse que ainda não estava na hora e me colocou no soro para aliviar a dor e voltou para o hospital que ele estava de plantão, a plantonista vinha me ver toda hora, e depois de 6 horas no hospital a plantonista veio e diagnosticou através de um exame de toque (parece até piada) que meu filho entraria em sofrimento e disse que eu tinha que fazer cesária, eu aceitei.
Já no CC me deram a Peridural e não me explicaram como seria, eu achava que não sentiria nada, mas eu só não senti dor, de resto senti todos os procedimentos até eu surtar. Minha pressão foi a 21/18, EU QUASE MORRI, eu só pude olhar pela primeira vez o meu filho 12 horas depois que ele nasceu e só pude pegar e ficar com ele 18 horas depois que ele nasceu.
A segunda cesária foi indicada pq eu passei por um estresse com 34 semanas e tive uma elevação de pressão, aí o Dr disse que tínhamos que fazer cesária logo pq o que aconteceu na primeira poderia se repetir.
A cirurgia foi um desespero total, eu queria que dessem calmante, eu estava com medo de morrer, mas não podia. Eu passei a cirurgia inteira falando com o anestesista, falando do meu medo, e o médico pedindo para eu parar de falar, mas não dava. Minha filha nasceu e eu tive que ficar gritando para deixarem ver, ela nasceu com 36 semanas e estava muito bem, eu tinha medo de morrer e precisava ver minha filha. Aí me deram o calmante direto na veia e eu cochilei e logo acordei, o Dr ainda estava limpando meu útero e eu voltei a falar e só parei quando fui para o quarto com a minha filha.
Nas duas não me deixaram ter acompanhante.


AGORA EU CARREGO COMIGO 2 TRAUMAS A SEREM SUPERADOS.

VBA2C - Chegamos as 37 semanas, nossa que ansiedade!!!
Quase todos os dias o D. encostava na minha barriga e falava:
   - E aí filhão!? Como é que é? Ta na hora de nascer!
Com 38 semanas comecei a senti os pródromos mais intensos.
Depois das 39 semanas o D. às vezes ficava tão ansioso, que me perguntava pq eu não tinha escolhido a cesária, eu nem respondia, ele sempre soube do meu trauma com cesária. Já perto das 40 semanas, vira e mexe ele me escutava conversando com o A. para ele vir logo e ele falava para eu deixar ele vir na hora que ele quisesse.
Completei 40 semanas dia 15/02, a expectativa era que ele nascesse na virada de lua do dia 18/02 mas ainda não estava na hora. No mesmo dia tive a consulta da EO, eu estava com medo de esperar e isso me atormentava, contei para EO de uma reportagem que vi de uma mãe que perdeu seu bb com 41 semanas, nasceu morto e tal e ela disse que depois das 41 semanas tinha um risco maior, eu que já tinha lido sobre isso fui ler de novo, pesquisei muito e vi que depois das 41 semanas o risco de mecônio era maior mas a probabilidade de algo desandar era mínimo, era mais fácil meu útero romper. Mas mesmo assim eu estava me questionando se devia esperar, a EO deu a opção de irmos em uma GO fazer o descolamento de membrana, meu colo estava mole mais estava muito posterior, eu aceitei.
Dia 19/02, 40+4, o D. me ligou, me disse que as pessoas estavam preocupadas e que ele também estava ficando, falei para ele ficar tranquilo que tudo ia dar certo e falei de alguns nascimentos beirando e até passando das 42 semanas, mas quando eu desliguei o telefone me bateu um desespero e eu comecei a chorar, eu queria ir para o hospital, mas eu sabia que a hora que chegasse eles me internariam por causa das 2 cesárias anteriores, minha mãe resolveu me ligar bem naquele momento que eu não conseguia parar de chorar, eu tinha medo do meu filho não querer nascer, de acontecer alguma coisa e ela me acalmou, falou para eu parar de pensar assim, aí logo em seguida o D. ligou de novo, e eu ainda chorava e ele pediu para manter a calma, afinal íamos fazer o descolamento no dia 20/02.
Eu pensei várias vezes em superar meu medo, meu trauma e ir para a cirurgia, mas por outro lado eu tinha uma confiança tão grande que tudo daria certo, que eu não conseguia me ver em uma mesa de cirurgia.
Dia 20/02, por volta de meio-dia o descolamento foi feito, sai do consultório com algumas contrações e cólicas, mas tudo bem fraco. Eu rezei pro meu filho nascer naquela noite, eu me imaginava indo buscar meus filhos no aeroporto com o A. no sling, bem grudadinho em mim, mas as contrações não evoluíram. Dia 21/02, eu acordei cedo, ansiosa pq meus filhos chegariam das férias naquela tarde, comecei a limpar a casa as 7 horas, quando o D. chegou a  casa estava limpa, a comida pronta e eu já estava pronta para buscar as crianças, avisei a ele que as contrações estavam mais doloridas, mas estavam tão espaçadas que eu preferi ir com ele no aeroporto, saímos de casa as 15:20, o aeroporto é em outro município então fomos de ônibus, quando foi 18 horas eu falei para o D. que as contrações estavam ficando próximas, a gente estava chegando no aeroporto, ele não me deu muita atenção, eu vivia com contrações mas eu sabia que elas estavam diferentes,


na volta do aeroporto elas foram ficando cada vez mais próximas, e sempre que elas viam eu dava um jeito de rebola no banco, eu já estava ficando desesperada no ônibus descemos e pegamos um táxi até chegar em casa, avisei a equipe assim que eu cheguei em casa e comecei a marcar, eu estava com medo delas pararem como sempre acontecia, meia-noite a EO chegou e logo depois chegou a doula e mais para a madrugada chegou a fotógrafa. Eu estava vivendo um sonho, as crianças foram dormi, o D. montou a piscina junto com a EO e já deixaram cheia. Passei a madrugada em pródromos bem tensos e não ritmavam, eu precisava dormir, meu olho fechava sozinho, então a EO falou para eu tentar dormir um pouco, o D. deitou comigo e dormiu e eu cochilava e acordava a cada contração esmagando a mão dele, de repente as contrações aumentaram e eu levantei, acho que elas estavam de 4 em 4 minutos, com duração de 50 seg, que alegria, entramos em TP ativo as 6 horas do dia 22/02, devia ser umas 6:20 quando o A. teve a primeira queda nos batimentos, a  EO pediu para eu deitar novamente virada para o lado esquerdo, talvez fosse o meu cansaço que estivesse fazendo isso, 15 minutos depois ela veio escutar e estava a 80/89 bpm, e ela disse que talvez teríamos que ir para o hospital, nesse momento eu fiquei nervosa mas tentei me manter calma, depois de 15 minutos ela ouviu de novo e disse que estava normal e não precisaríamos ir para o hospital naquele momento, mais 15 minutos e o coração se manteve normal, o D. acompanhando tudo, perguntou se era normal e a EO disse que estava tudo dentro do normal que poderíamos ficar tranquilos, me levantei e fui para o chuveiro, do chuveiro para a Bola e depois fui para piscina, que alívio, relaxa tanto que ali entre as contrações parecia que eu entrava em sono profundo, quando era entre 09/10 horas a bolsa rompeu ( depois que a bolsa rompeu o A. acho que mexeu umas 4/5 vezes e foi mexidas leves), eu estava na piscina, e meu corpo já fazia força bem fraquinha mas fazia, meu colo ainda estava posterior e com 3 de dilatação, mas nem me preocupei com isso, eu nem estava sentindo a dor que eu tanto me preparei para sentir, eu falava que elas estavam muito fracas, que se fosse daquele jeito seria moleza.
Lá pelas 13 horas e comecei a tomar algumas gotinhas de pulsatila (é um floral que ajuda a estimular o útero).
Entre 16/17 horas a Dra que fez o descolamento veio aqui em casa me ver e puxou de 3 para 5 de dilatação e foi conversar com a EO, depois que a Dra foi embora eu senti uma certa tensão, parecia que as coisas tinham que andar o mais rápido possível.
Depois que a Dra deu o toque, coisa de uns 20 minutos eu já estava com 7, esse momento as dores começaram a doer de verdade, quando as contrações vinham eu automaticamente gritava, lembro de ter falado para a doula que eu não ia aguentar e ela me lembrou da fase da negação, eu estava nessa fase, eu não conseguia andar, doía demais o meu quadril, eu queria entrar na piscina mas não me deixavam pq desacelerava o TP, então continuei no chuveiro com uma bola pequenininha, mas meus joelhos já estavam pedindo arrego. Não me lembro do meu filho ser escutado enquanto eu estava no chuveiro, lembro que eu falava para o D. que queria ir para o hospital mais que eu não ia conseguir daquele jeito, com muita insistência eu consegui entrar na piscina, mas se desacelerasse as contrações em 20 minutos eu teria que sair e tomar um óleo que é laxante e que eu não queria tomar. Entrei na banheira, foi imediato, as contrações que estavam vindo uma em cima da outra deram um intervalo de 5 minutos e nesse momento a EO veio escutar o A. e os batimentos estavam a 50 bpm, ela mandou eu deitar e foi difícil ela conseguir escutar e quando conseguiu ele se mantinha 50, então o desespero começou, ligaram para o SAMU, e enquanto o SAMU não chegava eu pedia toda hr para escutar os batimentos do A., continuavam baixos e eu pedi o oxigênio, de manhã tinha dado certo poderia dar certo de novo, até o SAMU chegar  os batimentos aumentaram, lembro que escutei bem rapidinho e EO disse feliz que tinha voltado ao normal, que ia dar tudo certo mais que não daria mais para ficar em casa e eu concordei pois naquele momento eu não tinha mais segurança nem confiança para ficar em casa, a única coisa que eu queria era chegar logo no hospital, eu sai de casa rezando para me levarem para a cirurgia para poderem salvar a vida do meu filho.
Na ambulância não escutaram o coração do meu filho e eu pedi o oxigênio para ajudar a mantê-lo, mas não me lembro se me deram, na ambulância eu estava de 8/9 e os gritos estavam desesperadores, cadê vez mais alto, mas eu não sentia mais dor, os gritos vinham junto com a força do corpo, era algo incontrolável. Chegamos no hospital, fui para sala de admissão, 10 de dilatação e nada dos batimentos, eu não conseguia pensar, me levaram direto para sala de parto, eu chamei o D. e uma das médicas falou para ele ir fazer a ficha que ele entraria depois, mas eu acho que não queriam que ele entrasse pq era uma emergência, meu filho precisava nascer rápido. Na sala de parto eu vi uma tesoura na mão da médica que estava bem de frente para mim e eu gritei desesperadamente, não me corta, acho que repeti umas 3/4 vezes, eu estava sozinha, minha doula não foi comigo eu não sabia quais eram as atitudes de emergência então eu questionei até onde eu pude. A médica falou para eu manter a calma que ninguém ia me cortar, e nisso as contrações não deram mais espaço, e eu tentava não gritar, mas era impossível, e de repente eu sinto algo dentro de mim, que estava doendo e me impedia de fazer força, era a mão da GO analisando como o A. estava, e eu mandava ela tirar a mão pq com a mão lá eu não conseguia, gritei bem alto que aquilo era V.O. e nisso já vi o ferro do fórceps e de novo comecei a grita dizendo que não iam enfiar aquilo em mim, e nisso desde a hora que eu falei que era VO (foi tudo bem rápido), ela tirou a mão de dentro de mim novamente e disse com carinho, isso não é VO, seu filho precisa nascer o mais rápido possível, e eu me calei e parei de pensar que eu não ia conseguir daquela maneira. Dra perguntou pq eu gritava e eu só respondi que eu não sabia, ela falou para eu morder o lençol que eu conseguiria forças ao invés de gritar, e deu certo, a Dra falou ele está vindo, faça uma força bem cumprida que ele vai nascer, e assim foi, ele nasceu com a ajuda de um dos fórceps, mas nasceu sem reação, ele nasceu todo molinho, verde, cheio de grumos colado pelo corpinho, foi uma correria só. Quando o D. chegou na sala estava começando a me suturar, tive umas 3/4 lacerações que levaram 1/2 pontos cada, e o A. estava na salinha, e eu falei para o D. que ele não estava bem, mas o D. é uma pessoa super positiva e a confiança dele me fez acreditar que realmente o A. sairia dessa. Nos levaram para a sala de cirurgia, onde logo depois veio uma pediatra conversar com a gente e ela explicou que o A. passou um bom tempo no mecônio e aspirou muito mecônio, disse que o pulmão e tudo quanto era lugar que podia ter mecônio tinha e ele não resistiu, voltou por 25 minutos e se foi para sempre. Ficaram com ele cerca de 1 hora ou mais um pouquinho e nada pôde ser feito para trazer nosso filho amado e tão desejado.
Meu anjinho nasceu no SUS, com 3015 kg, 22/02 as 20:16, com menos de 20 minutos de atendimento até o nascimento..
Parto acompanhado pelo Empodera- Curitiba
EO- Deise Basquera

Por Karina Vieira




NOTAS DO BLOG:
Esse relato foi escrito pela mãe do bebê;
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Este, como todos os outros relatos da série QUANDO O INESPERADO ACONTECE, foram publicados com o intuito de estimular reflexões para situações incomuns mas possíveis durante a gestação, parto e amamentação;
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quinta-feira, 12 de março de 2015

DIVIDA SUA HISTÓRIA COM A GENTE

Nas próximas semanas, teremos uma série de relatos no blog DOULAR intituladas QUANDO O INESPERADO ACONTECE.
Serão textos escritos por pessoas que se viram em situações completamente inesperadas, seja no planejamento familiar, gestação, parto ou amamentação.
O objetivo é dividir a sua história, desafios e aprendizagem; e ajudar outras famílias a se prepararem psicologicamente para situações que fogem do comum.
Se você tem uma história e quer dividir com a gente, envie seu relato para o e-mail: vanessadoulamg@yahoo.com.br


"O esperado nos mantém fortes, firmes e em pé. O inesperado nos torna frágeis e propõe recomeços." Machado de Assis