Vou fazer um relato bem resumido das minhas cesárias, para vocês entenderem o pq eu tanto queria um parto normal, não era capricho era a lógica.
Eu tinha 16 anos quando fui para a cirurgia retirar meu filho da barriga, estava de 38 +6. Cheguei no hospital e meu médico foi me ver, disse que ainda não estava na hora e me colocou no soro para aliviar a dor e voltou para o hospital que ele estava de plantão, a plantonista vinha me ver toda hora, e depois de 6 horas no hospital a plantonista veio e diagnosticou através de um exame de toque (parece até piada) que meu filho entraria em sofrimento e disse que eu tinha que fazer cesária, eu aceitei.
Já no CC me deram a Peridural e não me explicaram como seria, eu achava que não sentiria nada, mas eu só não senti dor, de resto senti todos os procedimentos até eu surtar. Minha pressão foi a 21/18, EU QUASE MORRI, eu só pude olhar pela primeira vez o meu filho 12 horas depois que ele nasceu e só pude pegar e ficar com ele 18 horas depois que ele nasceu.
A segunda cesária foi indicada pq eu passei por um estresse com 34 semanas e tive uma elevação de pressão, aí o Dr disse que tínhamos que fazer cesária logo pq o que aconteceu na primeira poderia se repetir.
A cirurgia foi um desespero total, eu queria que dessem calmante, eu estava com medo de morrer, mas não podia. Eu passei a cirurgia inteira falando com o anestesista, falando do meu medo, e o médico pedindo para eu parar de falar, mas não dava. Minha filha nasceu e eu tive que ficar gritando para deixarem ver, ela nasceu com 36 semanas e estava muito bem, eu tinha medo de morrer e precisava ver minha filha. Aí me deram o calmante direto na veia e eu cochilei e logo acordei, o Dr ainda estava limpando meu útero e eu voltei a falar e só parei quando fui para o quarto com a minha filha.
Nas duas não me deixaram ter acompanhante.
AGORA EU CARREGO COMIGO 2 TRAUMAS A SEREM SUPERADOS.
VBA2C - Chegamos as 37 semanas, nossa que ansiedade!!!
Quase todos os dias o D. encostava na minha barriga e falava:
- E aí filhão!? Como é que é? Ta na hora de nascer!
Com 38 semanas comecei a senti os pródromos mais intensos.
Depois das 39 semanas o D. às vezes ficava tão ansioso, que me perguntava pq eu não tinha escolhido a cesária, eu nem respondia, ele sempre soube do meu trauma com cesária. Já perto das 40 semanas, vira e mexe ele me escutava conversando com o A. para ele vir logo e ele falava para eu deixar ele vir na hora que ele quisesse.
Completei 40 semanas dia 15/02, a expectativa era que ele nascesse na virada de lua do dia 18/02 mas ainda não estava na hora. No mesmo dia tive a consulta da EO, eu estava com medo de esperar e isso me atormentava, contei para EO de uma reportagem que vi de uma mãe que perdeu seu bb com 41 semanas, nasceu morto e tal e ela disse que depois das 41 semanas tinha um risco maior, eu que já tinha lido sobre isso fui ler de novo, pesquisei muito e vi que depois das 41 semanas o risco de mecônio era maior mas a probabilidade de algo desandar era mínimo, era mais fácil meu útero romper. Mas mesmo assim eu estava me questionando se devia esperar, a EO deu a opção de irmos em uma GO fazer o descolamento de membrana, meu colo estava mole mais estava muito posterior, eu aceitei.
Dia 19/02, 40+4, o D. me ligou, me disse que as pessoas estavam preocupadas e que ele também estava ficando, falei para ele ficar tranquilo que tudo ia dar certo e falei de alguns nascimentos beirando e até passando das 42 semanas, mas quando eu desliguei o telefone me bateu um desespero e eu comecei a chorar, eu queria ir para o hospital, mas eu sabia que a hora que chegasse eles me internariam por causa das 2 cesárias anteriores, minha mãe resolveu me ligar bem naquele momento que eu não conseguia parar de chorar, eu tinha medo do meu filho não querer nascer, de acontecer alguma coisa e ela me acalmou, falou para eu parar de pensar assim, aí logo em seguida o D. ligou de novo, e eu ainda chorava e ele pediu para manter a calma, afinal íamos fazer o descolamento no dia 20/02.
Eu pensei várias vezes em superar meu medo, meu trauma e ir para a cirurgia, mas por outro lado eu tinha uma confiança tão grande que tudo daria certo, que eu não conseguia me ver em uma mesa de cirurgia.
Dia 20/02, por volta de meio-dia o descolamento foi feito, sai do consultório com algumas contrações e cólicas, mas tudo bem fraco. Eu rezei pro meu filho nascer naquela noite, eu me imaginava indo buscar meus filhos no aeroporto com o A. no sling, bem grudadinho em mim, mas as contrações não evoluíram. Dia 21/02, eu acordei cedo, ansiosa pq meus filhos chegariam das férias naquela tarde, comecei a limpar a casa as 7 horas, quando o D. chegou a casa estava limpa, a comida pronta e eu já estava pronta para buscar as crianças, avisei a ele que as contrações estavam mais doloridas, mas estavam tão espaçadas que eu preferi ir com ele no aeroporto, saímos de casa as 15:20, o aeroporto é em outro município então fomos de ônibus, quando foi 18 horas eu falei para o D. que as contrações estavam ficando próximas, a gente estava chegando no aeroporto, ele não me deu muita atenção, eu vivia com contrações mas eu sabia que elas estavam diferentes,
na volta do aeroporto elas foram ficando cada vez mais próximas, e sempre que elas viam eu dava um jeito de rebola no banco, eu já estava ficando desesperada no ônibus descemos e pegamos um táxi até chegar em casa, avisei a equipe assim que eu cheguei em casa e comecei a marcar, eu estava com medo delas pararem como sempre acontecia, meia-noite a EO chegou e logo depois chegou a doula e mais para a madrugada chegou a fotógrafa. Eu estava vivendo um sonho, as crianças foram dormi, o D. montou a piscina junto com a EO e já deixaram cheia. Passei a madrugada em pródromos bem tensos e não ritmavam, eu precisava dormir, meu olho fechava sozinho, então a EO falou para eu tentar dormir um pouco, o D. deitou comigo e dormiu e eu cochilava e acordava a cada contração esmagando a mão dele, de repente as contrações aumentaram e eu levantei, acho que elas estavam de 4 em 4 minutos, com duração de 50 seg, que alegria, entramos em TP ativo as 6 horas do dia 22/02, devia ser umas 6:20 quando o A. teve a primeira queda nos batimentos, a EO pediu para eu deitar novamente virada para o lado esquerdo, talvez fosse o meu cansaço que estivesse fazendo isso, 15 minutos depois ela veio escutar e estava a 80/89 bpm, e ela disse que talvez teríamos que ir para o hospital, nesse momento eu fiquei nervosa mas tentei me manter calma, depois de 15 minutos ela ouviu de novo e disse que estava normal e não precisaríamos ir para o hospital naquele momento, mais 15 minutos e o coração se manteve normal, o D. acompanhando tudo, perguntou se era normal e a EO disse que estava tudo dentro do normal que poderíamos ficar tranquilos, me levantei e fui para o chuveiro, do chuveiro para a Bola e depois fui para piscina, que alívio, relaxa tanto que ali entre as contrações parecia que eu entrava em sono profundo, quando era entre 09/10 horas a bolsa rompeu ( depois que a bolsa rompeu o A. acho que mexeu umas 4/5 vezes e foi mexidas leves), eu estava na piscina, e meu corpo já fazia força bem fraquinha mas fazia, meu colo ainda estava posterior e com 3 de dilatação, mas nem me preocupei com isso, eu nem estava sentindo a dor que eu tanto me preparei para sentir, eu falava que elas estavam muito fracas, que se fosse daquele jeito seria moleza.
Lá pelas 13 horas e comecei a tomar algumas gotinhas de pulsatila (é um floral que ajuda a estimular o útero).
Entre 16/17 horas a Dra que fez o descolamento veio aqui em casa me ver e puxou de 3 para 5 de dilatação e foi conversar com a EO, depois que a Dra foi embora eu senti uma certa tensão, parecia que as coisas tinham que andar o mais rápido possível.
Depois que a Dra deu o toque, coisa de uns 20 minutos eu já estava com 7, esse momento as dores começaram a doer de verdade, quando as contrações vinham eu automaticamente gritava, lembro de ter falado para a doula que eu não ia aguentar e ela me lembrou da fase da negação, eu estava nessa fase, eu não conseguia andar, doía demais o meu quadril, eu queria entrar na piscina mas não me deixavam pq desacelerava o TP, então continuei no chuveiro com uma bola pequenininha, mas meus joelhos já estavam pedindo arrego. Não me lembro do meu filho ser escutado enquanto eu estava no chuveiro, lembro que eu falava para o D. que queria ir para o hospital mais que eu não ia conseguir daquele jeito, com muita insistência eu consegui entrar na piscina, mas se desacelerasse as contrações em 20 minutos eu teria que sair e tomar um óleo que é laxante e que eu não queria tomar. Entrei na banheira, foi imediato, as contrações que estavam vindo uma em cima da outra deram um intervalo de 5 minutos e nesse momento a EO veio escutar o A. e os batimentos estavam a 50 bpm, ela mandou eu deitar e foi difícil ela conseguir escutar e quando conseguiu ele se mantinha 50, então o desespero começou, ligaram para o SAMU, e enquanto o SAMU não chegava eu pedia toda hr para escutar os batimentos do A., continuavam baixos e eu pedi o oxigênio, de manhã tinha dado certo poderia dar certo de novo, até o SAMU chegar os batimentos aumentaram, lembro que escutei bem rapidinho e EO disse feliz que tinha voltado ao normal, que ia dar tudo certo mais que não daria mais para ficar em casa e eu concordei pois naquele momento eu não tinha mais segurança nem confiança para ficar em casa, a única coisa que eu queria era chegar logo no hospital, eu sai de casa rezando para me levarem para a cirurgia para poderem salvar a vida do meu filho.
Na ambulância não escutaram o coração do meu filho e eu pedi o oxigênio para ajudar a mantê-lo, mas não me lembro se me deram, na ambulância eu estava de 8/9 e os gritos estavam desesperadores, cadê vez mais alto, mas eu não sentia mais dor, os gritos vinham junto com a força do corpo, era algo incontrolável. Chegamos no hospital, fui para sala de admissão, 10 de dilatação e nada dos batimentos, eu não conseguia pensar, me levaram direto para sala de parto, eu chamei o D. e uma das médicas falou para ele ir fazer a ficha que ele entraria depois, mas eu acho que não queriam que ele entrasse pq era uma emergência, meu filho precisava nascer rápido. Na sala de parto eu vi uma tesoura na mão da médica que estava bem de frente para mim e eu gritei desesperadamente, não me corta, acho que repeti umas 3/4 vezes, eu estava sozinha, minha doula não foi comigo eu não sabia quais eram as atitudes de emergência então eu questionei até onde eu pude. A médica falou para eu manter a calma que ninguém ia me cortar, e nisso as contrações não deram mais espaço, e eu tentava não gritar, mas era impossível, e de repente eu sinto algo dentro de mim, que estava doendo e me impedia de fazer força, era a mão da GO analisando como o A. estava, e eu mandava ela tirar a mão pq com a mão lá eu não conseguia, gritei bem alto que aquilo era V.O. e nisso já vi o ferro do fórceps e de novo comecei a grita dizendo que não iam enfiar aquilo em mim, e nisso desde a hora que eu falei que era VO (foi tudo bem rápido), ela tirou a mão de dentro de mim novamente e disse com carinho, isso não é VO, seu filho precisa nascer o mais rápido possível, e eu me calei e parei de pensar que eu não ia conseguir daquela maneira. Dra perguntou pq eu gritava e eu só respondi que eu não sabia, ela falou para eu morder o lençol que eu conseguiria forças ao invés de gritar, e deu certo, a Dra falou ele está vindo, faça uma força bem cumprida que ele vai nascer, e assim foi, ele nasceu com a ajuda de um dos fórceps, mas nasceu sem reação, ele nasceu todo molinho, verde, cheio de grumos colado pelo corpinho, foi uma correria só. Quando o D. chegou na sala estava começando a me suturar, tive umas 3/4 lacerações que levaram 1/2 pontos cada, e o A. estava na salinha, e eu falei para o D. que ele não estava bem, mas o D. é uma pessoa super positiva e a confiança dele me fez acreditar que realmente o A. sairia dessa. Nos levaram para a sala de cirurgia, onde logo depois veio uma pediatra conversar com a gente e ela explicou que o A. passou um bom tempo no mecônio e aspirou muito mecônio, disse que o pulmão e tudo quanto era lugar que podia ter mecônio tinha e ele não resistiu, voltou por 25 minutos e se foi para sempre. Ficaram com ele cerca de 1 hora ou mais um pouquinho e nada pôde ser feito para trazer nosso filho amado e tão desejado.
Meu anjinho nasceu no SUS, com 3015 kg, 22/02 as 20:16, com menos de 20 minutos de atendimento até o nascimento..
Parto acompanhado pelo Empodera- Curitiba
EO- Deise Basquera
Por Karina Vieira
EO- Deise Basquera
Por Karina Vieira
NOTAS DO BLOG:
Esse relato foi escrito pela mãe do bebê;
A reprodução dele e das imagens devem ser feitas mediante autorização por escrito;
Este, como todos os outros relatos da série QUANDO O INESPERADO ACONTECE, foram publicados com o intuito de estimular reflexões para situações incomuns mas possíveis durante a gestação, parto e amamentação;
Comentários são bem vindos. Mas caso tenham conteúdo ofensivo, preconceituoso ou sejam desrespeitosos, serão excluídos;
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